Título: Emitir dívida para quê?
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Economia, p. 37

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), avalia que o Brasil já conquistou vantagens de países ¿grau de investimento¿ e não precisa mais captar no exterior.

É sustentável para o Brasil ter uma taxa de risco abaixo de 200 pontos?

ALEXANDRE SCHWARTSMAN: Sim. Há uma busca global dos investidores por títulos brasileiros, mais do que por outros papéis de países emergentes. Acho difícil que esse movimento de queda do risco seja revertido. A tendência é de que o risco-Brasil fique em linha com o de outras nações em desenvolvimento (ontem, a média dos emergentes era de 171 pontos). Isso não quer dizer, no entanto, que eventualmente não possa voltar à casa dos 200 pontos.

Houve então uma mudança estrutural da economia brasileira?

SCHWARTSMAN: Sem dúvida. Vamos continuar tendo superávits em conta corrente e uma melhora no perfil da dívida pública. Há quatro anos, a dívida pública era de US$132 bilhões. Hoje o setor público é credor em US$32 bilhões. São US$164 bilhões de diferença! Um importante elemento de instabilidade da economia foi desmontado. Além disso, em 1999, a dívida correspondia a quatro anos e meio de exportações. Hoje, essa relação é de apenas um ano, o que nos dá uma folga enorme.

O país deve aproveitar esse bom momento para captar recursos no exterior a um custo mais baixo?

SCHWARTSMAN: Emitir dívida para que? Estamos recomprando dívida! Não há mais necessidade de financiamento externo. Já chegamos no nível de países como o México, que fazem uma emissão por ano, apenas para servir de referência para o mercado. A era de captações do governo para se financiar definitivamente ficou para trás.

O movimento atual é uma antecipação do chamado grau de investimento?

SCHWARTSMAN: Sim. Recentemente, estive com investidores nos Estados Unidos e na Europa, que aplicam em títulos brasileiros e a avaliação é muito positiva. Para eles, há um consenso de que o risco poderia cair mais 30 a 70 pontos abaixo do nível de 200 pontos centesimais. Se as estimativas deles estão corretas, o Brasil tenderia a ter um risco de 150 a 180 pontos nos próximos 12 a 18 meses. E, tendo a acreditar que eles podem estar corretos.