Título: Risco-Brasil cai e atinge novo recorde: 194 pontos
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Economia, p. 37

Indicador tem menor nível em 12 anos e meio e, para especialistas, deve recuar ainda mais, rumo aos 150 pontos

A ampla liquidez internacional e as altas taxas pagas pelos papéis brasileiros levaram o risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros no país, ao menor nível da História. Ontem à noite, o indicador ¿ que começou a ser calculado pelo banco americano JP Morgan em abril de 1994 ¿ marcava a mínima do dia: 194 pontos centesimais, uma queda de 4,9% em relação à véspera.

Especialistas acreditam que o risco deve testar novos recordes a curto prazo e pode, ao longo de 2007, chegar próximo a 150 pontos centesimais, o que representaria um recuo de 22,68% em relação a ontem. Essa é a avaliação do economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central (BC) e atual diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Mercado antecipa o `grau de investimento¿

Para ele, a forte queda recente reflete a expectativa dos investidores de que o país cresça a taxas mais elevadas e sustentáveis e também indica uma antecipação do mercado ao chamado grau de investimento (mais alto nível de classificação de risco, concedido para economias consideradas seguras para o investidor):

¿ Se o governo não ceder a políticas econômicas heterodoxas, a tendência é de que o risco caminhe para níveis pouco superiores ao de países que já são grau de investimento. Mas, para isso, é necessário que haja avanços na qualidade do ajuste fiscal e das reformas estruturais, que precisam ser feitas. Com isso, o Brasil crescerá a uma taxa de 4% ao ano, atraindo cada vez mais recursos de investidores estrangeiros, o que fará o risco ceder ¿ pondera.

Na semana passada, por exemplo, o fundo de pensão Calpers ¿ que reúne os funcionários públicos da Califórnia e é o maior dos Estados Unidos, com um patrimônio de US$225 bilhões ¿ anunciou que investirá em ações de países como Brasil, Rússia e China a partir de janeiro. E, os fundos que aplicam em ações de empresas de países emergentes já captaram, no ano, o volume recorde de US$22,1 bilhões, ante US$20,3 bilhões em 2005.

O também economista Alexandre Schwartsman, que deixou em abril deste ano a diretoria da Área Internacional do BC e hoje atua como economista-chefe do ABN Amro para a América Latina, diz que a forte queda reflete a mudança na história de crédito do Brasil:

¿ O investidor que entra hoje no país compra um ativo com a tranqüilidade de que não sofrerá calote. O investidor compra ativos brasileiros, por isso, a tendência do risco é de novas quedas ¿ avalia o ex-diretor do BC.

Desde que o indicador atingiu sua máxima histórica ¿ de 2.436 pontos centesimais, em setembro de 2002, no auge da crise eleitoral ¿ acumula uma queda de 92,03%.

Durante café da manhã com jornalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a nova queda histórica do risco e brincou que tomará champanhe com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para festejar.

¿ Tinha um champanhe para tomar com o Furlan, quando chegasse a 200 (pontos centesimais) e ainda não o tomamos ¿ brincou.

Ontem, o dólar caiu 0,37%, fechando vendido a R$2,15. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ficou praticamente estável: recuou 0,07%.

COLABOROU: Cristiane Jungblut