Título: Tropas brasileiras invadem favela no Haiti
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Fonte: O Globo, 23/12/2006, O Mundo, p. 40

Soldados da ONU liderados por batalhão do Brasil enfrentam grupos criminosos para combater onda de seqüestros

PORTO PRÍNCIPE. Uma operação conjunta das forças da missão de paz das Nações Unidas e da polícia do Haiti invadiu a favela de Cité Soleil, a maior do país, numa ação para combater grupos criminosos. O forte tiroteio entre grupos armados locais e as autoridades deixou um número não conhecido de mortos, mas algumas testemunhas dizem que pode passar de dez. A operação foi coordenada e controlada pelo Batalhão Brasileiro das Forças de Paz da ONU.

A invasão começou às 5h10m e as tropas da ONU foram recebidas com tiros. Foi travado um intenso combate, principalmente na área conhecida como Bois Neuf em Cité Soleil. Soldados brasileiros lideraram o ataque, que contou com 300 militares de Bolívia, Chile, Equador, Peru e Uruguai, 40 policiais haitianos e internacionais e 20 carros blindados.

Testemunhas ouvidas pela agência internacional de notícias France Presse afirmaram que pelo menos dez pessoas morreram na operação, e várias ficaram feridas. Já fontes ouvidas pela agência EFE falaram de somente três mortos.

Soldado brasileiro fica levemente ferido

Numa ação preliminar ao ataque, realizada quinta-feira à tarde, um blindado uruguaio sofreu uma pane e foi atacado com coquetéis molotov, sendo incendiado. Ele só foi recuperado na operação de ontem.

O coronel Pedrosa, assessor de imprensa do batalhão brasileiro no país, afirmou ao GLOBO que um militar brasileiro teve ferimentos leves.

¿ Um sargento fuzileiro naval teve ferimentos levíssimos. Ele está andando e falando normalmente ¿ disse o coronel Pedrosa.

Mais tarde, o Ministério da Defesa confirmou que o terceiro sargento Gilson Clemente Fonseca foi ferido levemente e está fora de perigo.

A ação foi realizada depois de um grande aumento no número de seqüestros em Porto Príncipe, com dezenas de pessoas tendo sido levadas de suas casas ou mesmo capturadas no meio da rua durante o dia por grupos criminosos, que exigem resgates. Acredita-se que a liderança de alguns destes grupos está em Cité Soleil.

A ONU confirmou que o objetivo da operação foi combater a onda de seqüestros. A porta-voz Sophie de la Combe afirmou ontem que nas últimas semanas foram liberados seis reféns e detidos 24 criminosos em ações das forças da ONU e da polícia haitiana.

Na quinta-feira, o representante especial das Nações Unidas no Haiti, o guatemalteco Edmond Mulet, já demonstrara indignação com a série de seqüestros no país. Nos últimos dias, os alvos preferenciais foram estudantes haitianos.