Título: Desgastada, Câmara enfrenta briga de poder
Autor: Braga, Isabel e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 24/12/2006, O País, p. 10

Após Chinaglia costurar aliança com PMDB, Aldo assume candidatura à reeleição, com apoio da oposição

BRASÍLIA. Na semana em que o Congresso atingiu seu ponto mais crítico de desgaste perante a opinião pública, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fizeram movimentações importantes na disputa pela presidência da Casa. O petista atropelou Aldo e tentou amarrar um acordo para ter o apoio do PMDB e se viabilizar como o candidato da base governista.

Aldo, por sua vez, resolveu partir para a briga. Avisou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que é candidato com o apoio de PCdoB, PSB, e de parlamentares influentes de PP, PL, PFL e até de setores do PMDB. Acreditando que tem o maior leque de apoio, inclusive na oposição, que não engole a candidatura petista, ele está disposto a bater chapa em plenário com Chinaglia.

¿ O Aldo decidiu partir para cima e ser mais agressivo. Ele se fragilizou momentaneamente por causa dessa questão do aumento, em que ficou no alvo como presidente da Câmara. E se não partir para cima, perde espaço para o adversário, que não se expôs tanto e pôde se recolher, depois que a coisa estourou. Mas o Aldo não tinha outra alternativa ¿ diz o deputado e senador eleito Renato Casagrande (PSB-ES), um dos principais cabos eleitorais de Aldo, além de Ciro Nogueira(PP-PI) e Inocêncio de Oliveira (PL-PE).

Em meio ao desgaste das duas candidaturas, em função da desastrada operação de aumento dos subsídios dos parlamentares em 90,7%, uma terceira possibilidade pode surgir: o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), disposto a se lançar como anti-candidato.

Gabeira ocupou espaço na opinião pública ao posicionar-se frontalmente contra o aumento e foi um dos que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o ato da Mesa. O líder do PV admite que as chances de vitória são pequenas, já que o voto é secreto e há o peso do corporativismo.

¿ Estou pensando em me lançar como anti-candidato, com um programa de redução de custos da Casa, de reconciliação da Câmara com a sociedade. É claro que tenho que ser realista, sei que as chances são pequenas de me eleger com essas bandeiras ¿ diz Gabeira.

Como os eleitores são os próprios deputados, Aldo teria a seu favor o fato de ter defendido a instituição, a despeito de todas as críticas da opinião pública, motivadas pela decisão das Mesas Diretoras de aumentar o subsídio para R$24.500. Além disso, a defesa que o PT fez do aumento de um reajuste menor (para R$16.500), numa tentativa de se recompor com a opinião pública, poderá prejudicar uma candidatura petista.

¿ Aldo mostrou firmeza na defesa da instituição nesta questão do aumento dos subsídios.Teve capacidade de se posicionar, mesmo num momento difícil. Foi o primeiro grande enfrentamento e ele se saiu bem. E mais uma vez o PT ficou mal com a Casa ¿ avalia o líder Rodrigo Maia (PFL-RJ), favorável à candidatura Aldo.

Aliados de Chinaglia criticam atuação de Aldo

Já os aliados de Chinaglia apontam o desgaste de Aldo no episódio do aumento dos subsídios. Aldo defendeu abertamente os R$24.500, afirmam, mas errou na forma e não negociou antecipadamente com o STF, submetendo a Casa a um desgaste e um resultado inócuo.

O maior revés para a reeleição de Aldo foi a decisão do PT de se aliar ao PMDB, oferecendo um revezamento na presidência da Casa nos próximos quatro anos.

¿ Esse acordo explicitado impulsiona o apoio de outros partidos, pois mostra que a candidatura Arlindo ganhou força ¿ diz o vice-líder do PT, Odair Cunha (MG).