Título: A nova imagem do PSOL no Senado
Autor: Gois, Chco de
Fonte: O Globo, 24/12/2006, O País, p. 10

Suplente de Ana Júlia será o único representante do partido de Heloísa Helena

BRASÍLIA. Um vereador de Abaetetuba, no Pará, terá como missão, a partir de fevereiro, substituir duas mulheres no Senado: Ana Júlia Carepa (PT), titular da vaga de senador que ele herdará por quatro anos, e Heloísa Helena, que lhe deixará a única cadeira do PSOL no Senado. Trata-se de José Nery Azevedo, 47 anos, um ex-seminarista que nasceu em Crateús, no Ceará ¿ ¿terra muito seca e de muitos problemas sociais¿, diz¿ , e desde 1985 está no Pará.

Por causa da dedicação à militância, como ele diz, acabou deixando de lado a própria formação acadêmica. Somente neste ano concluirá o curso de geografia, na Universidade Federal do Pará (UFPA). O seminário ele cursou em 1981-82, sob a coordenação do bispo dom Antonio Fragoso, ardoroso defensor da Teologia da Libertação.

Nery, como é conhecido, embrenhou-se pela militância nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e pela Pastoral da Juventude. Hoje atua com movimentos sociais, sobretudo na área da educação.

Futuro senador teve 1.721 votos para deputado estadual

Ele será um novato ao pisar o tapete azul que caracteriza o Senado, mas já é um veterano em mandatos e disputas eleitorais. Vereador desde 1996 em Abaetetuba, cidade com 75.737 eleitores, neste ano ele candidatou-se a deputado estadual pelo PSOL, partido para o qual migrou ao deixar o PT, com quem rompeu no ano passado. Abertas as urnas, contabilizou 1.721 votos, pouco mais do que os 1.407 votos conquistados em 2004 e que lhe concederam o terceiro mandato consecutivo na Câmara de Abaetetuba.

¿ Tivemos uma votação que expressa a dificuldade do partido ¿ analisa o futuro senador, lembrando que dos 141 municípios paraenses, o PSOL está organizado em apenas três.

Nery trocou o PT pelo PSOL por ¿divergências programáticas¿ com o partido do presidente Lula. No PT, ele integrava a corrente esquerdista Ação Popular Socialista (APS).

¿ Ao assumir o governo federal, o PT abandonou bandeiras de esquerda e ficou cada vez mais distante das bases ¿ diz.

Mesmo contrariado com o antigo partido, Nery evita criticar Ana Júlia, eleita governadora do Pará, a quem substituirá e para quem fez campanha no segundo turno das eleições em seu estado para ¿derrotar os 12 anos de domínio tucano¿. Durante a eleição, a petista teve o apoio de uma figura que as esquerdas, novas e tradicionais, costumam olhar de soslaio: o deputado reeleito Jader Barbalho (PMDB).

Ana Júlia, inclusive, na formação de seu governo, já abriu espaço para o neo-aliado. Mas Nery, que foi suplente da senadora também na eleição de 1998, acredita na disposição da antiga companheira de querer provocar mudanças no estado.

Nery é viúvo, tem um filho de 20 anos, que passou no curso de Comunicação Social da UFPA, e poucas posses. No total, segundo declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem bens que totalizam R$56 mil ¿ 12 cabeças de gado, dois carros, uma casa e um terreno. Seu patrimônio, no entanto, é superior ao da governadora eleita, que declarou possuir apenas um carro, avaliado em R$38 mil.

Defesa da reforma agrária e da participação popular

Sereno no jeito de falar, ele contrasta com o temperamento explosivo de Heloisa Helena. Faz críticas, mas não ataques. E não quer ser considerado apenas o sucessor da senadora alagoana, de quem diz ter admiração.

O futuro senador adianta que fará oposição ao governo federal, mas, se for chamado a conversar, afirma que levará ao presidente a proposta do PSOL: aceleração da reforma agrária, ampliação do programa de geração de renda, mais espaço para a participação popular.