Título: Dois agentes federais sob suspeita
Autor: Martins, Marco Antônio
Fonte: O Globo, 24/12/2006, Rio, p. 15

Servidores teriam passado informações sigilosas à quadrilha e podem ser expulsos

As investigações da Polícia Federal (PF) que deflagraram a Operação Gladiador contra as máfias de caça-níqueis mostraram que o órgão tem dois inimigos dentro da própria casa: um delegado e um agente. Lotada na Superintendência do Rio, a dupla, nos últimos meses, passou informações sigilosas a uma quadrilha ligada à máfia dos caça níqueis, e fez ameaças aos desafetos do ex-policial Paulo Cezar Ferreira do Nascimento, o Paulo Padilha.

Uma investigação paralela sobre os dois servidores federais foi aberta na PF e pode levar ambos à expulsão, caso a culpa deles seja comprovada. De acordo com investigadores, Padilha é dono de máquinas caça-níqueis usadas nos bingos Municipal e Scala. Ele ainda seria procurador da Oeste Rio Games, empresa de Rogério de Andrade, que explora os caça-níqueis com Carlos Nascimento.

Ex-policial federal, Padilha usaria contatos com antigos colegas para a ¿manutenção do seu negócio, inclusive ameaçando fechar os estabelecimentos que não atendam aos seus interesses por meio do aparato policial¿, de acordo com um trecho de um relatório do Ministério Público Federal. Num telefonema dado em 27 de setembro, o ex-policial fala que vem perdendo R$350 mil por mês e que já teria conversado sobre o assunto com o delegado suspeito.

¿ Paulinho, se quiser, eu faço uma sacanagem com ele aí ¿ diz o delegado ao contraventor.

Padilha foi preso, em outubro, por policiais civis em Búzios. Ele teria recebido, segundo relatório de quatro procuradores da República, um telefonema de um policial civil conhecido como Raposão, avisando-o sobre uma operação da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) para tentar prendê-lo, em agosto. De dentro do Ponto Zero, onde está preso, Padilha vem controlando seus negócios. As investigações mostram que a carceragem serve como uma área de lazer, onde ele teria recebido amigos para peixadas e jogos de pôquer.

Policiais federais que atuaram na Operação Gladiador acreditam que Carlos Nascimento use a loja Ponto Chic de Padre Miguel Jóias Ltda. como local para lavar dinheiro obtido com o lucro das apostas nas máquinas de caça-níquel. A suspeita surgiu a partir da movimentação financeira do local. Em 2005, por exemplo, ela chegou a mais de R$6 milhões, com uma receita bruta no valor de R$126.843,35.