Título: No Rio, Beltrame é o terceiro de uma dinastia
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 25/12/2006, O País, p. 3

Delegado federal vai substituir Precioso, que entrou no lugar de Itagiba

No Rio de Janeiro, o delegado José Mariano Beltrame, convidado pelo governador eleito Sérgio Cabral para assumir a Secretaria de Segurança Pública a partir do dia 1ºde janeiro, será o terceiro de uma dinastia de policiais federais que comanda as polícias estaduais há dois anos. O precursor foi o deputado federal eleito Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), nomeado pela governadora Rosinha Garotinho em 2004.

Itagiba trocou a chefia da Superintendência Regional da PF pelo governo em abril de 2003, quando o ex-governador Anthony Garotinho assumiu a secretaria e, sem experiência na polícia, nomeou-o para o cargo de subsecretário-geral. Em 2004, Garotinho deixou o posto para se dedicar às eleições municipais, e o delegado foi efetivado. Ele estava no comando da polícia em março do ano passado, quando uma chacina promovida por PMs deixou 29 mortos em Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Nos bastidores do governo, Itagiba travou uma disputa velada com o então chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins. Na semana passada, ele revelou que pediu a demissão do ex-subordinado a Rosinha por suspeitar de seu envolvimento num caso de corrupção na Polinter.

Itagiba saiu do governo em março deste ano para embarcar na política partidária, concorrendo a uma vaga na Câmara. Em seu lugar, assumiu o também delegado federal Roberto Precioso, que já havia sido, como Itagiba, superintendente da PF do Rio. Precioso também comandou a PF no Espírito Santo e foi presidente da Interpol no Brasil.

A passagem de Precioso pelo governo teve a marca da discrição. O secretário evitou entrevistas e, quando falou, provocou polêmica: culpou a equipe de segurança da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie Northfleet, pelo assalto sofrido por ela e pelo vice-presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, na Linha Vermelha, no último dia 8. No mais, teve administração apagada, delegando a maior parte das atividades públicas ao chefe de Polícia, Ricardo Hallack. Precioso deixa o governo semanas depois de a PF prender 79 policiais militares acusados de envolvimento com o tráfico e com a máfia dos caça-níqueis.

Com exceção de Garotinho e do coronel PM Josias Quintal, há dez anos a Secretaria de Segurança tem sido ocupada por gente de fora dos seus quadros. Antes de a PF passar a fornecer seus homens, foi o Exército: foram três generais no posto máximo da segurança do estado. O mais famoso deles, Nilton Cerqueira, assumiu levando na bagagem sua participação na morte do ex-capitão Carlos Lamarca, que abandonou o Exército para unir-se à luta armada contra o regime militar.