Título: PF em alta com governadores
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 25/12/2006, O País, p. 3

Sete delegados federais devem ser nomeados secretários estaduais de Segurança em 2007

Depois de desmontar quadrilhas nos 27 estados brasileiros a partir de 250 grandes operações de combate à corrupção e ao crime organizado nos últimos quatro anos, a Polícia Federal se transformou em peça-chave na montagem dos governos estaduais. Desde o fim do primeiro turno das eleições, dez governadores pediram ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a liberação de delegados da PF, ou mesmo a indicação de nomes de delegados, para o comando de secretarias estaduais de Segurança Pública. Com isso, mais de um terço das 27 secretarias deverão ser comandadas por homens da PF.

- Durante a ditadura militar, generais e coronéis eram chamados para as secretarias de Segurança. Agora, depois do sucesso das grandes operações, os convites são para delegados da PF - disse Bastos.

Até sexta-feira, estavam confirmados como secretários de Segurança os delegados José Mariano Beltrame, no Rio; Paulo Bezerra, na Bahia; Romero Lucena, em Pernambuco; Wantuir Jacine, no Mato Grosso do Sul; e Kércio Pinto, em Sergipe. A cúpula da PF dava como certa ainda a nomeação dos delegados Francisco Sá Cavalcante, no Amazonas; e Francisco Mallmann, em Roraima. Os governadores do Rio Grande do Sul, Alagoas e Pará fizeram sondagens a delegados, mas, devido a problemas internos regionais, a idéia não foi levada adiante.

- Foram dez pedidos. Alguns chegavam com os nomes dos delegados e pediam a liberação deles. Outros pediam sugestões - disse o ministro da Justiça.

Caminho para integrar polícias

A onda de pedidos, desvinculados de interferências político-partidárias, surpreendeu o ministro. As secretarias de Segurança são postos estratégicos nas administrações estaduais, por implementarem as políticas de combate à violência. São desses postos, também, que seus ocupantes acabam tendo uma visão privilegiada das entranhas do poder. Para as cúpulas do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, o mais importante é que a presença de delegados nas secretarias abre uma avenida para a decantada aproximação entre as polícias.

- Com nossos colegas nas secretarias, o entendimento fica mais fácil. Ajudará na integração das instituições - disse a delegada Maria do Socorro Nunes, diretora de Gestão de Pessoal da PF.

A integração é uma palavra emblemática no Sistema Único de Segurança Público (Susp), lançado por Bastos em 2003 para diminuir o fosso entre as estruturas de segurança estaduais e a federal. Nas conversas com o Ministério da Justiça, os governadores não detalharam planos de ação. Mas o diretor da PF, Paulo Lacerda, espera que as nomeações ajudem as polícias estaduais a promover operações contra a corrupção e o crime organizado incrustados nos poderes locais.

- Os delegados levam para as secretarias a metodologia de trabalho da PF - disse Lacerda.

A PF começou a ganhar prestígio a partir das operações. No início, políticos, lobistas, empresários, advogados e policiais reagiram às investigações. Mas, com o decorrer do tempo, as ações ganharam apoio popular. A partir daí, alguns setores do governo, que viam a PF com desconfiança, tentaram transformar os resultados das operações em trunfos eleitorais. As investigações da PF tiveram forte influência nas eleições em alguns estados e na corrida presidencial.

Depois da divulgação das fotos do dinheiro que petistas usariam para comprar o dossiê contra tucanos, o presidente Lula, favorito nas pesquisas, perdeu terreno e teve que disputar o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB). Depois da divulgação de um relatório da PF sobre a máfia dos vampiros, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa viu sua candidatura ao governo de Pernambuco naufragar de vez. Costa, que esteve em segundo lugar nas pesquisas, nem foi para o segundo turno.

Inclui quadro:Conheça os novos secretários