Título: Joalheria em Bangu lavava dinheiro da máfia
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 25/12/2006, Rio, p. 13

Firma serviria de fachada para operação de uma das quadrilhas que exploram ilegalmente os caça-níqueis

As investigações da Operação Gladiador revelam que o ex-agente da Polícia Federal Paulo César Ferreira dos Nascimento, o Paulo Padilha, usava uma joalheria em Bangu para lavar o dinheiro da máfia dos caça-níqueis. A empresa Ponto Chic Jóias Ltda teve movimentação financeira de R$6 milhões no ano passado. A PF acredita que a firma funcione como fachada para ocultar a origem do dinheiro obtido ilegalmente através da exploração das máquinas.

A Ponto Chic, segundo relatório da PF, tem como sócios o ex-agente Paulo Padilha e seu irmão Carlos Ferreira do Nascimento, o Carlinhos, também denunciado por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. Os irmãos Paulo, Carlinhos e Moacir são citados nas investigações como integrantes da organização chefiada por Rogério Costa de Andrade e Silva, de 43 anos.

Ex-agente da PF montou organização paralela

A ligação dos irmãos com o contraventor foi comprovada através da análise da composição societária da empresa West Rio Game Diversões Eletrônicas. Moacir figurava como sócio proprietário da firma, que tinha como procurador Paulo Padilha. Com o assassinato de Moacir, em 12 de novembro de 2004, o ex-agente da PF montou uma organização paralela, responsável pela instalação de máquinas em bingos no Centro e no Leblon.

Apesar da atividade paralela, Padilha e Carlinhos mantinham ligação com Rogério Andrade. De acordo com investigações da PF, os irmãos estão envolvidos nos crimes de contrabando de componentes eletrônicos usados nos caça-níqueis, corrupção ativa, tráfico de influência e sonegação fiscal. A dupla foi denunciada pelo Ministério Público Federal.

Preso em Búzios, em setembro, Padilha aparece em escutas telefônicas dizendo ter "acertado" - pago propina - com a Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) para não ser incomodado. A delegacia especializada investigou a guerra dos caça-níqueis na Zona Oeste e, em agosto, indiciou 29 pessoas por envolvimento nos conflitos, entre eles Paulo Padilha e 16 policiais militares.

As investigações da PF mostram que Paulo Padilha foi informado previamente sobre o mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Criminal de Bangu. A descoberta - feita através de escutas - é atribuída pela PF à infiltração de informantes da organização criminosa no Judiciário.

PF deflagrou duas operações no mesmo dia

Em duas operações contra a banda podre da polícia do Rio, a PF prendeu no dia 15 passado 78 policiais militares e quatro inspetores da Polícia Civil. Na Operação Tingüi, foram detidos 76 praças e um tenente da Polícia Militar, na maior operação contra policiais em 197 anos de existência da corporação. Os nomes deles apareceram durante uma investigação da PF sobre o envolvimento de angolanos do Complexo da Maré na guerra do tráfico de drogas. Na Operação Gladiador, os policiais federais cumpriram 45 mandados de prisão. O alvo era a máfia dos caça-níqueis e a operação chegou à cúpula da Secretaria de Segurança, envolvendo o nome do delegado Álvaro Lins, ex-chefe de Polícia Civil e deputado estadual eleito (PMDB), que teve seu pedido de prisão negado pela Justiça Federal. Houve, no entanto, um mandado de busca e apreensão para revistar o apartamento de Lins, em Copacabana, o que não foi cumprido pela PF porque o deputado eleito havia sido diplomado. A Justiça Federal informou que a prisão do ex-Chefe de Polícia não foi decretada porque não havia provas suficientes no inquérito.