Título: Passageiros passam a noite de Natal em pleno vôo, por causa de atrasos
Autor: Tavares, Mônica e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 26/12/2006, Economia, p. 15

No Rio, casal janta pão com salame e diz que clientes pediam champanhe

Muitos passageiros passaram uma noite de Natal inesquecível... no mau sentido. Em vez de comemorar a data em casa ou em hotéis reservados, tiveram de suportar atrasos e, pior, fazer a ceia em pleno ar. Um repórter do GLOBO comprou uma passagem na sexta-feira e teve acesso à área de embarque do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na véspera de Natal, onde ficou por cinco horas. No Aeroporto Internacional Tom Jobim, a situação não foi diferente.

Por Congonhas, circularam passageiros como o advogado goiano Wilton Gomes, que deveria ter desembarcado em Recife com a mulher, Sandra, três filhos e uma amiga às 13h de domingo. Mas, depois de passar três horas na fila de check-in da TAM no aeroporto de Brasília, soube que seu vôo estava com overbooking (excesso de passageiros). A companhia ofereceu hospedagem, pois um novo vôo para Recife só partiria ontem.

Gomes e a família tinham alugado um carro para ir até Porto de Galinhas, a 60 quilômetros de Recife, onde se hospedariam para passar a ceia de Natal. Sua mulher, porém, conseguiu ¿sensibilizar¿ uma funcionária da Varig, que arranjou seis passagens até São Paulo, de onde seguiriam viagem.

¿ Não sabemos nem a que horas vamos chegar ¿ disse Sandra, que conseguiu embarcar com a família às 21h num vôo da Varig, com escala no Aeroporto Tom Jobim.

¿ Ainda bem que a família está toda junta. Vamos comemorar o Natal viajando ¿ explicou Gomes, resignado.

A capital pernambucana também era o destino do ajudante José Paixão da Silva, que vê família uma vez por ano. Em Igaraçu, Região Metropolitana de Recife, sua mãe e irmãs o esperavam para o Natal. Silva comprara sua passagem com três meses de antecedência e deveria ter embarcado num vôo da TAM à 1h15m de domingo.

Sem explicações da companhia, ele foi levado a Cumbica, onde passou a noite sem dormir. Por volta de meio-dia de domingo, embarcou para Brasília. Com Silva, viajaram quatro músicos conterrâneos seus, que voltavam de uma excursão pela Europa com a Banda de Pau e Corda. Rafael, Gilsinho, Sérgio e Beto penavam há muito mais tempo: estavam em Cumbica desde sexta-feira. Mas, chegando a Brasília, souberam que não existia vôo para Recife, e os funcionários da TAM informavam que quem quisesse chegar deveria tomar um vôo de volta para São Paulo.

¿ É um bando de gente safada ¿ queixava-se Silva, que embarcou às 22h.

No domingo, no Tom Jobim, o casal Rondinelli Lopes e Marsila Cabral tentava embarcar desde as 10h45m. Conseguiram às 19h15m. A perspectiva era fazer escala em Brasília e seguir para Fortaleza. Porém, como a TAM informou a outros passageiros que o vôo iria para São Luís, houve confusão na escala.

¿ Os comissários disseram que os passageiros que iam para São Luís deveriam descer. Uns dez obedeceram. Como o resto protestou, o vôo foi a Fortaleza e seguiu para São Luís. Sem falar que um cão viajou com os passageiros, fora da caixa ¿ disse Lopes, acrescentando que jantou pão com salame e que as pessoas perguntavam aos gritos onde estavam o peru e o champanhe.

Outro exemplo foi o da produtora cultural Ana Maria Padua. Ela, que mora em Nova York, ficou 48 horas sem dormir. Só conseguiu voar para o Rio porque teve uma crise nervosa e quase foi presa em São Paulo:

¿ Perdi o controle. Estou sem Natal, sem presente e sem celular. Vou passar a noite dentro de um avião com uma barra de cereal. Bom, né?