Título: Alemanha crescera o dobro do previsto, diz instituto
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 26/12/2006, Economia, p. 18

Com impulso da Copa, país recupera liderança da UE

BERLIM. No início bastante criticado pela falta de ação, o governo da chanceler Angela Merkel, a primeira mulher a governar a Alemanha, recupera sua popularidade com um aumento da previsão de crescimento em 2007 em mais de 100%. Ao contrário do magro 1%, usado nas próprias análises do governo, o Instituto de Pesquisa de Economia Mundial de Kiel dobrou a previsão para 2,1%. Outros institutos corrigiram seus números para cima. Com isso, a Alemanha recupera também o status de locomotiva na União Européia (UE), após anos ocupando o papel de lanterninha, com as mais baixas taxas de crescimento e altos déficits.

A melhora geral ocorreu porque, além das exportações, houve um aumento do consumo interno. O clima de medo do futuro e de insegurança, que havia paralisado a economia nos últimos anos, foi varrido pelo clima de entusiasmo que predominou durante a Copa do Mundo.

Mas os analistas não chegaram ainda a um consenso sobre as causas da boa notícia. A explicação sobre o efeito da Copa é apenas uma hipótese. Outra é que as pessoas passaram a comprar mais para evitar o aumento do imposto da mercadoria, de 16% para 19%, a partir de janeiro. Neste caso, a situação voltaria a piorar no próximo ano, mas os mais otimistas, como o presidente do Bundesbank (Banco Central) alemão, Axel Weber, dizem que as boas taxas de crescimento continuarão no próximo ano.

Hans Werner Sinn, do Instituto de Economia de Munique, vê a melhora da conjuntura internacional como o principal fator de ajuda à Alemanha, país que tem seu ponto forte nas exportações.

Taxa de desemprego teve forte queda no país

Segundo Weber, a Alemanha voltou a trazer impulsos de crescimento aos países da UE e deixou de correr risco de infringir o limite de déficit imposto pelo bloco. Este ano, a cota de déficit é de apenas 2% do PIB.

Para completar o quadro positivo, o aumento da taxa de crescimento resultou também na redução do número de desempregados, para menos de quatro milhões de pessoas. Segundo a oposição, essa redução foi, porém, ajudada com a transferência de milhares de desempregados para o setor de trabalho de baixo pagamento, de um euro por hora.

¿- Não devemos ser otimistas demais porque os déficits de orçamento não foram ainda superados. O novo endividamento é o menor contraído desde a reunificação alemã (em 1990) ¿ afirmou a chanceler alemã.

Mesmo que reduza as novas dividas contraídas de 30 bilhões este ano, para 20 bilhões, no próximo ano, a Alemanha gastará ainda assim 40 bilhões por ano só com juros.

Uma pesquisa realizada pela TV ARD e pelo Instituto Infratest Dimap indica que 70% dos alemães estão insatisfeitos com o trabalho da chamada ¿grande coalizão¿ (dos dois maiores partidos do país) e que a taxa de crescimento aumentou sem a interferência da política.