Título: Aldo x Chinaglia
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 27/12/2006, O Globo, p. 2

A disputa pela presidência da Câmara vai ganhando nitidez à medida que os fatos evoluem. O presidente Lula lavou as mãos. O PT, presidido por um de seus mais próximos assessores, Marco Aurélio Garcia, realiza ofensiva em favor do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), está na incômoda situação de depender dos votos da oposição.

Os petistas tentam montar um rolo compressor para tirar Rebelo da disputa. Para isso, propuseram ao PMDB um acordo pelo qual os petistas presidem a Câmara em 2007 e os peemedebistas, em 2009. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), quer reunir os 89 deputados do partido na segunda semana de janeiro para deliberar sobre o acordo. Depois disso, os petistas pretendem fechar o apoio do PTB, do PL e do PP. Para dar consistência a esse apoio, Chinaglia está se desdobrando para garantir os empenhos, de final de ano, das emendas dos parlamentares da base. O passo seguinte será convidar Rebelo a se retirar, em nome da unidade da base do governo, e dar uma mãozinha para que o presidente Lula o nomeie para um ministério.

Apesar desse cenário, mais favorável que há um mês atrás, Chinaglia não está tranqüilo. Rebelo não dá sinais de que vá correr da briga. Ele tem hoje o apoio do PSB e do PCdoB. O petista não sabe quantos votos lhe renderá o acordo com o PMDB. Os líderes da oposição (PSDB, PFL e PPS) garantem que seus votos não irão para o petista. Nem há condições para dimensionar o tamanho da rejeição ao PT entre os deputados, sobretudo os do chamado baixo clero. Esses foram os que mais se irritaram com a atitude do líder do PT, Henrique Fontana (RS), que defendeu um reajuste salarial para os parlamentares que aplicasse a correção da inflação (28,4%), em vez da equiparação (92%) com os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

O normal é a vitória do candidato do partido do governo. Mas a disputa será muito equilibrada e desgastante. Ocorre que os dois candidatos terão de se posicionar em relação ao reajuste salarial dos parlamentares. A definição do valor do reajuste foi adiada para fevereiro, quando tomarão posse os deputados eleitos para a legislatura que se inicia em 2007. No recente debate, tanto Aldo quanto Chinaglia defenderam o reajuste salarial pelo teto.

Do ministro Luiz Dulci sobre o segundo mandato: ¿Não pode ser mais do mesmo, nem nas áreas em que o governo foi bem. É preciso criar novos horizontes e novos objetivos¿.

O orçamento da saúde e as emendas

Mal-estar no Congresso com as críticas do novo presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, às emendas parlamentares individuais feitas na saúde. Reclama dos parlamentares por destinarem 30% de suas emendas para a saúde. Afirma que essa prática é um acinte e que é esdrúxula.

Os parlamentares dizem que se o novo presidente do conselho conhecesse mais do assunto teria dirigido suas críticas ao Poder Executivo. É ele que recomenda que os deputados e senadores destinem 30% de suas emendas individuais para a saúde. Isso ocorre porque a proposta de Orçamento que o Executivo manda para o Congresso não respeita o índice de investimento no setor, previsto pela Emenda 29. Não fossem as emendas dos parlamentares e a saúde não teria o que é de direito.

¿ O presidente do conselho ataca o Congresso e não cobra mecanismos de controle do Executivo nem de fiscalização dos convênios, cujos recursos são liberados pelo Executivo ¿ protesta o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Mal explicado

Chama a atenção as contradições no caso do envolvimento do ex-chefe de Polícia Civil e deputado estadual eleito Álvaro Lins (PMDB) com a máfia dos caça-níqueis. Para se safar do escândalo, o ex-secretário de Segurança Marcelo Itagiba declarou ter recomendado à governadora Rosinha Garotinho seu afastamento. Mas isso não impediu Itagiba, candidato a deputado federal, de fazer dobradinha com Lins.

COMENTÁRIO do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a atuação de líderes governistas no Senado: ¿Tem gente que entra na política, mas a política não entra nele¿.

O PRESIDENTE do Instituto Teotônio Vilela, deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA), quer revitalizar o partido e vai direcionar o trabalho de formulação do ITV para dotar o PSDB de bandeiras políticas que estejam em sintonia com as necessidades da sociedade. Os tucanos querem tirar da esquerda a exclusividade de formar quadros nos movimentos sociais.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Contidos

Os partidos médios que apóiam o governo Lula estão mais discretos no início do segundo mandato do que estiveram no primeiro. Nesta altura, em 2002, o PTB e o PL haviam praticamente duplicado suas bancadas na Câmara. O escândalo do mensalão e o desempenho do PMDB nas urnas inibiram seus dirigentes. Esses partidos estão destinados a cumprirem um papel secundário no segundo governo Lula.