Título: Tribunal confirma plena de morte
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Fonte: O Globo, 27/12/2006, O Mundo, p. 25

Corte rejeita apelação e ex-ditador do Iraque deve ser enforcado em janeiro; juiz diz que decisão é irrevogável

BAGDÁ. O ex-ditador do Iraque Saddam Hussein, de 69 anos, deverá ser enforcado ainda em janeiro ¿ depois que o Tribunal de Apelações do país anunciou, ontem, que manterá a sentença de morte contra ele, informando que ela deverá ser cumprida num prazo de 30 dias. Os juízes rejeitaram o pedido de revisão da pena proposto pela defesa do ex-ditador, condenado à morte em 5 de novembro junto com outros dois réus pelo massacre de 148 xiitas na cidade de Dujail, em 1982. O tribunal afirmou ainda que a decisão é irrevogável, e que a defesa não poderá apelar novamente.

¿ A decisão do tribunal de ter sustentado a pena de morte de Saddam é um marco importante para a história do Iraque ¿ elogiou o porta-voz da Casa Branca Scott Stanzel.

O advogado de Saddam, Khalil al-Dulaimi, disse que a decisão do tribunal já era esperada porque ¿o julgamento foi político¿. Organizações de defesa aos direitos humanos, como Anistia Internacional e Human Rights Watch, disseram-se ¿frustradas com a decisão¿ porque, segundo elas, o julgamento de Saddam sofreu interferências políticas e sua execução pode trazer mais violência ao Iraque. Especialistas em direitos humanos da ONU pediram ao governo iraquiano que não execute a sentença, salientando que o julgamento do ex-ditador foi repleto de erros. Para muitos, Saddam não poderia ter um julgamento imparcial no Iraque, assolado pela violência sectária entre xiitas e sunitas.

Mas o líder do Tribunal Penal Iraquiano, que julgou Saddam, o juiz Aref Abdul Razzaq al Shahin, disse que agora caberá ao governo escolher a data e o local de aplicação da sentença. ¿ Depois de 30 dias, a partir de amanhã (hoje), será obrigatório executá-la ¿ afirmou.

A expectativa é que o local e a data da execução de Saddam sejam mantidos em sigilo. Mesmo com a manutenção da pena de morte, Saddam ainda enfrenta um outro julgamento: do seu envolvimento na ofensiva militar de Anfal contra comunidades curdas, na década de 1980. As autoridades iraquianas afirmam que a sentença de morte contra Saddam será cumprida mesmo se o segundo julgamento não tiver sido concluído. O líder da corte iraquiana disse que, mesmo se Saddam for executado antes do final deste segundo julgamento, as sessões prosseguiriam sem sua presença. As audiências encontram-se paralisadas, e o julgamento deverá recomeçar no dia 8 de janeiro.

Vítimas americanas superam às do 11 de Setembro

Ontem, uma série de ataques em Bagdá matou pelo menos 40 pessoas e deixou mais de cem feridas. No mínimo 17 pessoas morreram em três explosões aparentemente coordenadas de carro-bomba em uma das principais avenidas do subúrbio de Bayaa, no sudoeste da cidade. A primeira atingiu uma multidão de pessoas que saía às compras em uma rua movimentada do subúrbio. Quando a polícia e ambulâncias chegavam ao local, duas outras bombas foram detonadas.

No norte e no leste da capital, pelo menos 20 pessoas morreram e outras 35 ficaram feridas em ataques separados a mesquitas sunitas. Mais uma vez, explosões posteriores atingiram serviços de emergência que acudiam as vítimas.

Os americanos também sofreram mais perdas no país: três soldados foram mortos em explosões no noroeste de Bagdá. Um quarto soldado ficou ferido no ataque. As mortes americanas de ontem resultaram em uma estatística que representa um marco. O total de soldados americanos mortos no Iraque (2.975) já supera o número de vítimas dos ataques do 11 de setembro de 2001 nos EUA (2.973).

Foram os atentados do 11 de Setembro que levaram os EUA a declararem ¿guerra ao terror¿ ¿ promovendo ações militares no Afeganistão e no Iraque. O número de civis iraquianos mortos desde a invasão do país, em 2003, já alcança as dezenas de milhares, mas há estimativas que sugerem que os mortos já somam centenas de milhares.