Título: Uruguai encerra busca por desaparecidos
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 27/12/2006, O Mundo, p. 25

Fim da procura por restos mortais de presos políticos gerou protestos de oposicionistas

BUENOS AIRES. O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, assinou ontem um decreto que prevê o encerramento das operações de busca de restos mortais de presos políticos desaparecidos durante a ditadura militar (1973-1985), iniciadas em agosto do ano passado. Numa reunião com ministros e congressistas da coalizão de governo, a Frente Ampla, o presidente aprovou, ainda, a criação do dia do ¿Nunca Mais¿, que será comemorado em 19 de junho (dia do nascimento de José Artigas, herói da Independência).

¿ O desejo da enorme maioria dos uruguaios é avançar no terreno da reconciliação e do reencontro com todos, não somente para que possamos todos juntos dar uma melhor qualidade de vida a nossos compatriotas, mas também para que todos assumamos que estes tristes e negativos fatos nunca voltem a ocorrer ¿ disse o presidente.

O novo feriado será uma homenagem aos presos políticos que morreram durante o governo militar. Segundo estimativas de organizações de defesa dos direitos humanos, 26 uruguaios foram seqüestrados, torturados e assassinados no Uruguai, cerca de 150 na Argentina e um número não definido no Paraguai.

A suspensão das escavações em lugares onde poderiam ter sido enterrados opositores do governo militar foi duramente questionada por partidos de esquerda que não integram a Frente Ampla e por organizações de defesa dos direitos humanos.

¿ Não podemos encerrar a busca da verdade. Muitos casos ainda precisam ser investigados e por isso temos de continuar buscando ¿ afirmou Carlos Coitiño, dirigente do Partido pela Vitória do Povo.

Entre agosto de 2005 e dezembro deste ano, o grupo de investigadores designado pelo governo encontrou apenas os restos mortais de Ubagesner Chávez Sosa e Fernando Miranda. O governo continuará recebendo denúncias e ordenará novas escavações, caso considere necessário.

¿ Longe de fechar este capítulo, o governo assume o compromisso de continuar buscando ¿ disse Tabaré Vázquez.

Justiça ordenou prisão de ex-presidente

As medidas foram adotadas em meio a um clima de forte tensão entre o governo e as Forças Armadas.

Mês passado, pela primeira vez desde a redemocratização do Uruguai, a Justiça ordenou a detenção de um ex-presidente do governo militar. Trata-se de Juan Maria Bordaberry (1973-1976), que foi acusado de ser um dos responsáveis pelo seqüestro e desaparecimento dos congressistas Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, e dos militantes do movimento Tupamaro, Rosario Barredo e William Whitelaw, em 1976.

O cerco começou a se fechar em setembro, quando a Justiça processou oito ex-militares e policiais que teriam participado do seqüestro e assassinato do uruguaio Adalberto Sosa, ocorrido em 1976, em Buenos Aires.

Quando assumiu o poder, em 2005, o presidente confirmou sua intenção de dar impulso às investigações sobre crimes cometidos por militares. Vázquez não anulou a anistia aos militares aprovada nos anos 80, mas, diferentemente de seus antecessores, cumpriu rigorosamente o texto da norma.