Título: Brasil se engaja na procura por vida extraterrestre
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 27/12/2006, O Mundo, p. 26

Satélite francês que será lançado hoje com colaboração brasileira buscará planetas semelhantes à Terra

O Brasil se engaja oficialmente hoje na busca por vida extraterrestre com o lançamento do satélite Corot, cuja missão principal é esquadrinhar estrelas fora do Sistema Solar em busca de planetas semelhantes à Terra. Trata-se da primeira missão espacial da História voltada para a detecção de planetas com potencial para abrigar alguma forma de vida.

O satélite é fruto de uma parceria entre França, Agência Espacial Européia, Alemanha, Espanha, Bélgica e Brasil. Embora os franceses estejam bancando 75% do seu valor total (120 milhões) e o Brasil apenas 2%, todos os países envolvidos têm direitos iguais no que diz respeito às informações geradas pela missão. O Brasil já acertou também sua participação numa missão mais avançada de busca espacial por vida ¿ também em parceria com os europeus ¿ prevista para 2014.

¿ É verdade, o Brasil está se engajando na busca por vida extraterrestre ¿ afirmou Eduardo Janot Pacheco, presidente do comitê Corot-Brasil.

O lançamento do Corot é extremamente importante na busca por planetas semelhantes à Terra, segundo especialistas. Até hoje, a procura por novos mundos vinha sendo feita da Terra. Por isso mesmo, a grande maioria dos chamados planetas extrasolares já descobertos (foram 209 em 170 sistemas) é formada por gigantes gasosos e não por corpos menores e rochosos, como a Terra. O menor desses planetas já detectado até hoje é cinco vezes maior que a Terra.

¿ Se estivéssemos observando o Sol de longe, com telescópios como os nossos, jamais enxergaríamos a Terra. O sistema é baseado na força gravitacional que o planeta exerce em sua estrela, por isso só vemos os grandes ¿ comparou Janot. ¿ Além disso, a atmosfera deforma as informações que chegam das estrelas. Há certas radiações que nem chegam à superfície. Por isso temos que sair da atmosfera.

O Corot é projetado para buscar planetas menores, mais parecidos com a Terra. Ele vai voltar seus instrumentos de busca especificamente para as chamadas zonas de habitabilidade, em que planetas estejam a uma distância razoável de suas estrelas que permita a ocorrência de água líquida, principal fator para a existência de vida.

A detecção dos planetas será feita indiretamente. A tecnologia do satélite permite o registro do trânsito dos corpos ¿ quando eles passam em frente a sua estrela projetando uma sombra, numa espécie de eclipse.

¿ Dessa forma saberemos onde estão os planetas menores, os rochosos ¿ diz Janot.

Expectativa é detectar 100 astros como a Terra

De acordo com as estimativas da missão, em dois anos e meio devem ser detectadas 100 mil estrelas e, pelo menos, uma centena de planetas rochosos, além de aproximadamente mil corpos gasosos.

¿ Esse é um cálculo estatístico, não é otimista nem pessimista ¿ frisa o especialista.

O lançamento do Corot é apenas o primeiro passo na busca por vida extraterrestre. Em 2012 uma nova sonda da ESA partirá para uma observação mais detalhada da atmosfera dos planetas detectados pelo Corot. O projeto de um segundo satélite europeu também voltado para o estudo das atmosferas será apresentado no próximo ano e contará com a participação brasileira.

O Corot estudará também a estrutura das estrelas, buscando avançar na compreensão do Sol. Os dados da missão serão captados por três estações, uma delas Alcântara, no Brasil, o que permitiu ampliar o número de estrelas observadas de 70 mil para 100 mil.