Título: Impasse
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 28/12/2006, O Globo, p. 2

Os sucessivos adiamentos do anúncio das medidas de estímulo ao crescimento da economia estão deixando apreensivos os aliados do governo Lula. Os sinais não são alvissareiros. Não há indício de que o governo federal ampliará os investimentos públicos. Além disso, assessores do presidente querem que ele abra mão da promessa eleitoral de fazer o país crescer 5% ao ano.

O ambiente entre os governistas é de pessimismo. Um dos envolvidos na discussão das medidas diz que é injusto dizer que o governo não sabe o que fazer. O problema é a falta de condições políticas para propor medidas duras, que criariam um ambiente favorável ao crescimento.

Os economistas dizem que não há como ampliar os investimentos públicos sem a contenção dos gastos correntes. Argumentam que 67% dos gastos da União, tirando o pagamento de juros, são com pessoal e Previdência. E não há indicações de que os gastos serão reduzidos nessas áreas. Pelo contrário, os gastos estão se expandindo, como demonstra o reajuste do salário mínimo para R$380, que terá um impacto, não previsto no Orçamento para 2007, de R$900 milhões na Previdência Social. A ampliação das despesas será constante nos próximos três anos, pois a política para o mínimo prevê reajustes anuais pela inflação e pelo crescimento do PIB.

Muitos petistas já estão conformados. Dizem que o fundamental é adotar políticas sociais e de crédito para os mais pobres, como no primeiro mandato. E que o país poderia continuar crescendo a modestos 3% ao ano, sem prejuízos políticos relevantes, desde que se mantenha a estabilidade e uma forte política de distribuição de renda. Esta receita serviu para que o presidente Lula renovasse seu mandato e, acreditam, seria suficiente para o PT manter-se no poder em 2010.

Esse cenário, reconhecem ministros e dirigentes petistas, aponta para a manutenção das tensões do primeiro mandato. Ele indica que persistirá o contencioso entre o governo Lula, os setores médios da sociedade e parcela da iniciativa privada. Nesse quadro, os petistas avaliam que a oposição tem tudo para ganhar fôlego nas eleições municipais de 2008. Sem um crescimento mais acentuado da economia, o PT enfrentará dificuldades eleitorais, sobretudo nas principais capitais do país.

O líder do PFL, José Agripino (RN), foi furtado no fim de semana em Copacabana. Ele falava ao celular quando o trombadinha, de bicicleta, arrancou-lhe o aparelho da mão.

A ética, o sanguessuga e o voto

Na reunião do Conselho de Ética da Câmara, que absolveu o ex-líder do PP Pedro Henry (MT), envolvido nas denúncias de desvio de recursos do Ministério da Saúde para a compra de ambulâncias, chamou a atenção o voto do petista Eduardo Valverde (RO).

Chamado a votar pelo presidente da Comissão, Ricardo Izar (PTB-SP), Valverde declarou: ¿Não gostaria de ser injusto com ninguém. Não tenho convicção sobre essa matéria. Quero abster-me¿. Sete deputados se ausentaram e sete, dos 15 do conselho, votaram pela absolvição de Pedro Henry, que já tinha se livrado antes de punição pelo escândalo do mensalão.

Como o relatório de Mussa Demes (PFL-PI) só tinha recebido sete votos, ficou a dúvida sobre a validade de uma absolvição por maioria simples. Alguns entendiam que eram necessários oito votos. Valverde, que minutos atrás havia dito que não tinha convicção, anunciou que mudara de posição: ¿Eu gostaria de rever o voto. Eu não quero deixar esta situação num impasse. Revejo o meu voto e acolho o do relator¿.

Foi assim

O ex-secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba, enviou e-mail protestando contra teor da nota ¿Mal explicado¿. Ele diz que foi por sua iniciativa que o Ministério Público do Rio e a Corregedoria da Polícia Civil investigou o ex-chefe de Polícia Álvaro Lins. Itagiba reafirma que solicitou a substituição de Lins à governadora Rosinha Garotinho. Quanto à dobradinha eleitoral, diz que foi imposição dos cabos eleitorais.

ACORDO entre os tucanos. O paulista Antonio Carlos Pannunzio será o líder da bancada na Câmara e o mineiro Nárcio Rodrigues ocupará o cargo do PSDB na mesa. Os governadores José Serra e Aécio Neves estão dividindo os espaços.

O MINISTRO da Saúde, Agenor Álvares, criou ontem a Comissão de Ética do Ministério. A iniciativa atende a três convenções internacionais assinadas pelo Brasil com a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a ONU.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Guerrilha

O PMDB neogovernista aconselhou a direção do PT a pressionar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A ala da bancada do PMDB que resiste à candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), à presidência da Câmara, é liderada por Renan. Em troca do voto dos senadores petistas, querem que Renan deixe na mão o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Os aliados estão se comendo.