Título: Derrotado, Mantega vira alvo de provocações em cerimônia
Autor: Damé, Luiza e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/12/2006, O País, p. 3

Sindicalistas ironizam ministro no Planalto

BRASÍLIA. Derrotado na queda-de-braço sobre o reajuste do salário mínimo em 2007, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi alfinetado ontem por dirigentes de centrais sindicais, durante a solenidade no Palácio do Planalto. Mantega vinha trabalhando para que o mínimo subisse de R$350 para R$367 ou, no máximo, R$375. Mas o governo acabou concordando com o valor de R$380.

O primeiro a provocar o ministro foi o presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Antônio Carlos dos Reis. Ele afirmou que o acordo fechado com as centrais fez com que até mesmo Mantega sorrisse, pois vai resultar num aumento de R$2,1 bilhões na arrecadação.

¿ Temos condições inclusive de fazer o ministro da Fazenda dar algum sorriso quando faz a política de salário mínimo, porque tem mais arrecadação ¿ disse o sindicalista.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, foi mais enfático. Disse que queria cumprimentar Mantega, apesar de o ministro ter tentado puxar para baixo o aumento do mínimo. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou a decisão correta ao reajustar o mínimo para R$380, como pediam os sindicalistas, e corrigir a tabela do Imposto de Renda em 4,5%.

¿ Não era só o Guido que dizia que o mínimo tinha que ser menor. Existe um pensamento na sociedade de que o crescimento se faz com arrocho salarial. Mas, do nosso ponto de vista, isso é errado ¿ disse Paulinho, que, depois da solenidade, acrescentou: ¿ Acho que ganhamos o debate em que o Mantega representava o atraso.

Depois do discurso de Paulinho, Mantega ficou sério e, mais tarde, deixou a solenidade rapidamente, sem dar entrevistas. O presidente Lula não fez comentários sobre as alfinetadas dos sindicalistas no ministro, mas também mostrou não ter gostado. Ele começou a cerimônia demonstrando bom humor mas, durante o discurso de Paulinho, parou de sorrir e baixou a cabeça.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, saiu em defesa de Mantega. Segundo ele, é normal que, na negociação, o ministro da Fazenda fale em valores mais baixos.

¿ Se o governo assumisse lá atrás que (o mínimo) seria de R$380, as centrais sindicais iam querer R$385, R$390. É evidente que o ministro tinha que puxar para baixo mesmo, para abrir possibilidade de um processo de negociação ¿ afirmou. (M.B e L.D.)