Título: Lula: R$380 e nada mais
Autor: Damé, Luiza e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/12/2006, O País, p. 3

Ao assinar acordo do mínimo, presidente avisa ao Congresso que vetará qualquer valor maior

Ao presidir ontem, no Palácio do Planalto, a cerimônia de assinatura do acordo do salário mínimo com as centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exortou o Congresso, especialmente a oposição, a manter o valor de R$380 a partir de abril de 2007. Lula advertiu que, se for aprovado um valor maior, ele vetará, como fez em julho com o aumento das aposentadorias superiores ao salário mínimo.

Lula chamou de demagógica essa atitude anterior do Congresso e disse que o acordo do governo com as centrais deve valer como lei. A oposição não gostou do tom do discurso e prometeu nova batalha em torno do mínimo, a partir de fevereiro de 2007.

Este ano, mesmo depois de acordo entre governo e centrais sindicais, o PFL comandou a aprovação de um aumento de 16,67% nas aposentadorias e pensões do INSS superiores ao mínimo, contra os 5% acordados. Lula vetou a mudança.

¿ Quando o Congresso Nacional tem compreensão e vota as coisas corretas, a gente não está livre de pegar alguém que queira chegar no mês de maio e fazer uma apresentação. Mas não se preocupem que eu veto. Se alguém tentar extrapolar o limite do que foi acordado, não tenham dúvida que eu veto, como vetei, antes das eleições, a demagogia daquele aumento que quiseram dar. E vetei com o maior prazer ¿ disse Lula.

Diante de sindicalistas, Lula fez também uma autocrítica e afirmou que, na sua época de dirigente sindical, o mínimo era usado apenas como peça de discurso:

¿ O mínimo era uma peça de ficção para discurso nosso no dia 1º de Maio. Isso valia para o (Luiz) Marinho (ministro do Trabalho), quando era presidente da CUT, para mim, quando era presidente sindical do ABC, e para todos vocês. Até porque a maioria das nossas categorias não representa o trabalhador de salário mínimo.

O acordo assinado ontem prevê, além do aumento, correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física em 4,5% de 2007 a 2010. Também estabelece a antecipação anual da data-base do mínimo, até chegar a 1º de janeiro, em 2010.

Para presidente, foi o aumento possível

Segundo Lula, o acordo inaugura um novo padrão de relacionamento do governo com a sociedade.

¿ Se houver uma seriedade entre o governo federal, o Congresso e os sindicalistas continuaremos estabelecendo um padrão de tamanha civilidade que as pessoas terão que acatar um acordo como esse quase como uma lei, uma decisão de uma instância superior, porque aqui está expressa a vontade de um conjunto de pessoas que representam a sociedade brasileira ¿ disse Lula.

Ele afirmou que o aumento pode não ser o que todos sonharam, mas é o possível. Segundo Lula, R$30 não é muito para quem ganha mais e gasta o equivalente em cerveja numa noite. Mas significa o sustento de 15 dias para os trabalhadores que dependem do mínimo. E lembrou quando seguia para o trabalho a pé, porque não tinha dinheiro para pagar o ônibus, frisando que muitos trabalhadores ainda fazem o mesmo por falta de dinheiro.

Lula disse que o desafio agora é ter a coragem de fazer coisas diferentes. E citou as reformas da Previdência e trabalhista, indicando que serão medidas de longo prazo.

¿ Sonho em construir a reforma junto com vocês ¿ disse.

Os dirigentes das principais centrais sindicais comemoraram a definição da nova política para o mínimo. O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique da Silva Santos, elogiou a política de valorização do mínimo, mas frisou que as marchas dos sindicatos para levar reivindicações ao governo continuarão.

REAJUSTE DEVE INJETAR R$10,6 BI NA ECONOMIA, na página 21

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