Título: Pressionado, PT modera discurso
Autor: Éboli, Evandro e De la Peña, Bernardo
Fonte: O Globo, 28/12/2006, O País, p. 4

Em reunião com Lula, petistas desistem de pedir mais espaço e saída de Meirelles

BRASÍLIA. O PT recuou ontem da idéia de cobrar mais espaço no governo e pedir a substituição do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, conforme defenderam petistas na véspera. Antes do encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, os integrantes da Comissão Política do partido foram enquadrados, afinaram o discurso e evitaram constrangimentos. Sem citar nomes, os petistas disseram a Lula que a legenda defende uma ¿renovação do pensamento econômico¿.

O tom mais ameno do encontro só foi possível após uma intervenção do Planalto, que acionou o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. No início da tarde, os integrantes da Comissão Política foram chamados para uma reunião prévia na sede do PT em Brasília. Ficou decidido que no encontro com Lula não fariam críticas nem falariam em nomes ou ministérios.

Após a conversa com o presidente, foram escalados para falar apenas Garcia e o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana.

¿ Não discutimos questões de varejo. Discutimos o atacado. Deixamos claro que não queremos apenas a continuidade do governo atual. Há uma profunda sintonia entre o PT e o presidente. Devemos trilhar um caminho de desenvolvimento mais forte ¿ resumiu Garcia.

O presidente do PT evitou falar da cobrança por cargos e mais espaço no governo. Disse que Lula só vai tratar da reforma ministerial na segunda quinzena de janeiro, e com as direções partidárias. Fontana também foi cauteloso. Sem citar nomes, defendeu ousadia na política econômica no segundo mandato, antenado com o discurso de Lula.

¿ Hoje temos o menor risco-país da História. Isso vai permitir ao governo ser mais ousado. Não devemos fulanizar o debate. Quem dirige a equipe econômica é o presidente, mas o PT quer ter papel estratégico nessa área ¿ disse Fontana.

Segundo um integrante da comissão que preferiu não ser identificado, ficou acertado que o PT vai sugerir nomes para ministérios depois da segunda quinzena de janeiro. Até lá, Lula pretende afinar a coalizão com siglas aliadas para garantir apoio no Congresso. Segundo o petista, ¿não foi preciso¿ defender a saída de Meirelles do BC, porque Lula já conhece o discurso do partido.

O presidente disse aos petistas que deseja um candidato único da base à presidência da Câmara. Mesmo deixando claro que não pretende se envolver diretamente na disputa entre o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o atual presidente da Casa, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), Lula cobrou consenso.

¿ O presidente falou que nós precisamos ter um método de aferição para que haja um candidato único. Apresentamos um nome, o do deputado Arlindo Chinaglia, que demonstra força política, e ele voltou a insistir na tese de diálogo para se chegar a um só candidato ¿ disse Fontana.