Título: Detetive é suspeito de trabalhar para máfia
Autor: Werneck, Demétrio
Fonte: O Globo, 28/12/2006, Rio, p. 17

Delegado afasta policial que estaria passando informações para uma das quadrilhas que exploram caça-níqueis

Suspeito de colaborar com o crime organizado, infiltrado na Polícia Civil, um detetive lotado há cerca de três anos no núcleo de operações da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco) foi afastado ontem, sob a acusação de passar informações confidenciais à quadrilha ligada ao contraventor Rogério de Andrade e ao grupo do ex-agente da Polícia Federal Paulo Cezar Ferreira do Nascimento, o Paulo Padilha. A decisão foi do delegado Milton Olivier, titular da Draco. O policial vinha sendo vigiado pelo delegado desde 2005.

¿ Encontrei indícios de que ele, o policial, estava vazando informações confidenciais de operações da Draco contra a máfia dos caça-níqueis. Afastei o policial e o encaminhei à Corregedoria Geral da Polícia Civil ¿ disse Milton Olivier.

O titular da Draco afirmou que passou a desconfiar de seu policial em 2005, depois de perceber que operações contra a máfia dos caça-níqueis passaram a vazar.

¿ Passei a usar a contra-informação. Passava para ele que ia realizar uma determinada operação em Jacarepaguá e seguia para outro bairro. Nossas ações começaram a dar certo ¿ observou Milton Olivier.

O caso foi informado à Chefia de Polícia. O policial foi encaminhado à Corregedoria Geral, onde vai responder a inquérito. Se as denúncias forem confirmadas, o detetive poderá ser expulso da Polícia Civil, onde trabalha há cerca de 20 anos.

Operação da PF confirmou vazamento

O vazamento de informações da Draco foi confirmado durante a Operação Gladiador, desencadeada há duas semanas pela Polícia Federal no Rio. Preso em Búzios, em setembro deste ano, Paulo Padilha aparece em escutas telefônicas dizendo ter ¿acertado¿ ¿- supostamente pagando propina ¿ com a Draco para não ser incomodado. A delegacia especializada investigou a guerra dos caça-níqueis na Zona Oeste e, em agosto, indiciou 29 pessoas por envolvimento nos conflitos, entre eles 16 policiais militares.

As investigações da PF revelaram ainda que Paulo Padilha estava ¿montando sua própria organização criminosa¿, com a ajuda de seu irmão Carlos Ferreira do Nascimento. Em 2003, o ex-agente da PF foi acusado de ameaçar de morte um agente da PF do Rio, que negou um pedido de porte de arma do ex-policial. Ainda segundo a Polícia Federal, Padilha supostamente usava uma joalheria em Bangu para lavar dinheiro da máfia dos caça-níqueis.

Pequena joalheria movimentou R$6 milhões

A empresa Ponto Chic Jóias Ltda teve movimentação financeira de R$6 milhões no ano passado. A PF acredita que a firma funcione como fachada para ocultar a origem do dinheiro obtido ilegalmente através da exploração das máquinas.

A Ponto Chic, segundo relatório da PF, tem como sócios o ex-agente Paulo Padilha e seu irmão Carlos Ferreira do Nascimento, o Carlinhos, também denunciado por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. Os irmãos Paulo e Carlinhos são citados nas investigações como integrantes de um ¿quadrilha autônoma¿, disputando o mercado de máquinas caça-níqueis com os contraventores Fernando Iggnácio e Rogério Andrade.

As investigações da PF mostram também que Paulo Padilha foi informado previamente sobre o mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Criminal de Bangu. A descoberta ¿ feita através de escutas ¿ é atribuída pela PF à infiltração de informantes da organização criminosa no Judiciário.