Título: Etíopes anunciam sítio à capital da Somália
Autor:
Fonte: O Globo, 28/12/2006, O Mundo, p. 28

Objetivo é forçar a rendição de rebeldes islâmicos que combatem governo provisório, e não invadir Mogadíscio

MOGADÍSCIO. A força militar conjunta de tropas etíopes e somalis se encontra a apenas 30 quilômetros da capital da Somália, Mogadíscio, cidade controlada pela União das Cortes Islâmicas (UCI). Representantes das tropas que apóiam o governo afirmaram que a intenção não é invadir a capital, mas sim cercá-la até que os milicianos se rendam.

Em seu avanço rumo a Mogadíscio, as tropas tomaram a cidade de Jowar, no sul, e Balad, no norte, a 30 quilômetros da capital.

¿ Não vamos lutar por Mogadíscio para evitar vítimas civis. Nossas tropas vão cercar a cidade até que os rebeldes se rendam ¿ garantiu o embaixador Abdikarin Farah, em entrevista na capital da Etiópia, Adis Abeba.

EUA sinalizam apoio à Etiópia

Os Estados Unidos sinalizaram ontem apoio à ofensiva etíope, afirmando que Adis Abeba tinha razões para se preocupar com os assuntos internos da Somália.

¿ A Etiópia tem preocupações de segurança genuínas referentes aos desdobramentos da situação na Somália ¿ afirmou o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, Gordon Johndroe.

Reafirmando a preocupação americana com o conflito, o próprio George W. Bush conversou com o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, sobre a Somália.

Em uma reunião de emergência, a União Africana (UA) exigiu que todos os estrangeiros, incluindo o governo da Etiópia, retirem imediatamente suas tropas da Somália.

¿ Pedimos o apoio urgente do governo de transição e a retirada das tropas e elementos estrangeiros ¿ disse o presidente da UA, Alpha Omar Konare, garantindo que uma missão liderada pelo grupo visitará a Somália em breve.

Uma semana de confronto entre os islâmicos e o governo laico apoiado pela Etiópia se transformou numa guerra declarada que ameaça devastar a Somália e, possivelmente, atrair radicais estrangeiros.

A Etiópia acusa a Eritréia de apoiar os islâmicos e garante já ter feito prisioneiros de guerra estrangeiros.

A Etiópia tem clara vantagem sobre os islâmicos, que contam com o fervor religioso, mas carecem de aviões caça e da experiência de um dos exércitos mais bem treinados da África.

Para islâmicos, ¿uma guerra santa¿ contra cruzados

Ainda assim, segundo analistas, uma ofensiva etíope a Mogadíscio, uma cidade de dois milhões de habitantes, poderia ser complexa. A recuada dos islâmicos parece atender à ordem de seu líder, o xeque Sharif Ahmed, para que as forças se reúnam em Mogadíscio e se preparem para uma guerra prolongada contra a Etiópia.

Ainda de acordo com analistas, uma recuada tática dos islâmicos poderia levar os soldados etíopes ao interior da Somália e dar início a um extenso conflito de guerrilhas num território que os rebeldes conhecem melhor.

A União das Cortes Islâmicas descreve o conflito com a Etiópia como uma ¿guerra santa¿ contra cruzados, fomentando a revolta contra o governo de Adis Abeba depois de décadas de rivalidade entre os dois países vizinhos.

A Etiópia, por sua vez, considera o confronto uma guerra contra terroristas relacionados à al-Qaeda. O primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, sustenta que suas tropas já mataram mil combatentes islâmicos e teriam deixado 3 mil feridos. Os islâmicos, por sua vez, garantem ter matado centenas de etíopes.