Título: Renan x Agripino
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 29/12/2006, O Globo, p. 2

Ao contrário do que ocorre na Câmara dos Deputados, na disputa pela presidência do Senado não há espaço para surpresas. O atual presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), está com a reeleição praticamente assegurada. Seu favoritismo foi definido pela postura do PDT, que, ao se aproximar do governo Lula, enfraqueceu a candidatura de oposição do líder do PFL, José Agripino (RN).

Os trabalhistas, que já tinham sido decisivos na eleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na Câmara, em 2005, voltam a atrapalhar os planos de poder do PFL. Sem o PDT, a candidatura de Agripino fica limitada aos votos do PSDB e do PFL, que lhe renderiam no máximo 30 votos, insuficientes para ganhar.

O quadro eleitoral do Senado sugere uma mudança política relevante. Há dois anos, Renan Calheiros foi eleito graças a uma costura prévia com a oposição. Somente depois do acerto com PSDB e PFL é que Renan obteve o apoio dos partidos do governo. O PT, naquela época, estava mergulhado na aventura da reeleição dos presidentes João Paulo Cunha (PT-SP) e José Sarney (PMDB-AP). Agora, ocorre o contrário: Renan está se viabilizando graças ao apoio do PMDB e dos partidos da base governista. Essa circunstância, avaliam senadores aliados, resultará numa mudança de postura de Renan, de quem se espera um maior alinhamento com o governo.

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), costuma dizer que a oposição está determinada a medir forças com o governo e, por isso, a candidatura de Agripino será mantida, mesmo que seja para perder. Há pefelistas que não pensam o mesmo e dizem que Agripino, em algum momento, poderá se retirar, caso sinta que não tem chances de vencer. Até mesmo porque isso poderia colocar em risco a presença do PFL na mesa do Senado. Mas o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) descarta esta alternativa. Ele garante que Agripino vai até o fim e que sua candidatura é viável. Para este pefelista as especulações sobre desistência não passam de uma intriga alimentada pelos aliados da candidatura de Renan Calheiros.

A postulação de Agripino não tem impedido Renan de procurar uma composição. O peemedebista gostaria de ser eleito também com o apoio da oposição. Acredita que isso lhe daria maior autonomia e maior autoridade diante do Executivo.

Frase do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, sobre as eleições para a mesa da Câmara dos Deputados: "A base do governo terá apenas um candidato a presidente".

Um teste para a bancada da educação

O ex-ministro da Educação e deputado eleito Paulo Renato Souza (PSDB-SP) criou o Fundef, no governo FH, para direcionar o orçamento da pasta para a melhoria salarial dos professores. Antes do Fundef, era comum usar a verba da educação para calçar a rua na frente das escolas.

Ao propor a criação do Fundeb, o governo Lula pretendia corrigir outra distorção: o desvio do dinheiro da educação para o pagamento de aposentadorias. O ministro da Educação, Fernando Haddad, pretendia proibir expressamente esta prática, mas, a pedido dos governadores, manteve esta possibilidade. O governador eleito de São Paulo, José Serra, foi um dos que pediram a Haddad que a medida provisória não vetasse o pagamento das aposentadorias. A disputa política sobre a questão será travada no Congresso.

Desde já, a bancada da educação, uma das mais organizadas do Congresso, vive um dilema. Ela terá de optar entre ficar ao lado da educação ou se alinhar com os governadores, impedindo que os professores tenham melhores salários.

Mais imposto

A governadora eleita do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, anunciou um ajuste fiscal que tem como fundamento o aumento dos impostos do setor produtivo. Repete a fórmula adotada pelos tucanos no governo federal, durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. A exemplo do candidato à Presidência Geraldo Alckmin, Yeda fez campanha dizendo que não se podia aumentar a carga tributária.

No jogo

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), voltou a ficar bem posicionado no cenário político. O diálogo institucional com o governo Lula ajudou. Seu nome voltou a ser cogitado para permanecer na presidência do PMDB. Ele trabalha agora para que pelo menos um neogovernista seja escalado para o ministério. O projeto do ex-presidente do STF Nelson Jobim, de presidir o partido, está ameaçado.

O PRESIDENTE Lula pediu ao secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, a elaboração de uma política de relacionamento com a mídia e um plano para melhorar a interlocução direta do presidente com os jornalistas.

O SENADORAlmeida Lima (PMDB-SE) está de malas prontas. Logo após a eleição da mesa do Senado, deve filiar-se ao PSDB.

O PRESIDENTE Lula está em campo, nos bastidores, para eleger seu candidato à presidência da Câmara.