Título: Aldo e Chinaglia lançam ofensivas na Câmara
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 29/12/2006, O País, p. 5

Deputados ignoram pedido de Lula por candidatura única dos governistas à presidência da Casa

BRASÍLIA. Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter avisado que os governistas precisam ter candidato único à presidência da Câmara, os dois principais nomes da base aliada lançaram ofensivas de campanha e apresentaram suas candidaturas como irreversíveis. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), reuniu deputados de vários partidos, inclusive do PFL, e avisou que vai até o fim na disputa pela reeleição. O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), montou uma estratégia com integrantes da base e também assegurou que não vai recuar.

No início da noite, Lula foi alertado sobre o avanço das duas candidaturas e sobre o risco de uma disputa violenta na base. Na avaliação no Palácio do Planalto, se esse cenário persistir poderá haver seqüelas, com graves conseqüências para a governabilidade no segundo mandado. Líderes da base avisaram ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que a situação está muito complicada.

Lula classificou a disputa como uma "campanha sangrenta", mas não sabe como interferir para garantir a candidatura única. Ele teme a repetição do episódio que culminou com a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) à presidência da Casa, há dois anos.

Ontem, o principal movimento partiu de Aldo. Em almoço na residência oficial, ele reuniu deputados de vários partidos, inclusive da oposição, para pedir votos pela reeleição. Ao sair da reunião, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), garantiu que Aldo está determinado a disputar com Chinaglia:

- Ele vai até o fim. Será o candidato da instituição e terá um discurso amplo em defesa de estados e municípios.

Aldo silencia sobre reunião com pefelista

Procurado pelo GLOBO, Aldo não quis falar sobre a reunião, da qual participaram ainda os deputados Olavo Calheiros (PMDB-AL), Aníbal Gomes (PMDB-CE), Arnon Bezerra (PTB-CE), Renildo Calheiros (PCdoB-PE) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), além do deputado eleito Rodrigo Rollenberg (PSB-DF).

Na mesma hora, Chinaglia se reunia na casa de Odair Cunha (PT-MG) com João Paulo Cunha (PT-SP), Ricardo Berzoini (PT-SP), José Múcio (PTB-PE), Júlio Delgado (PSB-MG) e Sandro Mabel (PL-GO), além do deputado eleito Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ele aposta na aliança de Aldo com a oposição para conseguir o apoio do Planalto.

- Minha candidatura será de respeito ao presidente da República - disse Chinaglia.

COLABOROU Adriana Vasconcelos

Tarso: Planalto ainda aposta em desistência

Governo acena com ministério como prêmio de consolação

BRASÍLIA. Embora trabalhe por uma candidatura única dos partidos aliados à presidência da Câmara, o presidente Lula não pretende pedir que Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ou Arlindo Chinaglia (PT-SP) desista da disputa. A aposta do Palácio do Planalto, no entanto, é que em 15 ou 20 dias a base governista terá um candidato único, segundo o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

O ministro disse que Lula considera as duas candidaturas legítimas, mas não acredita que PT e PCdoB cometerão "o desatino" de insistir na disputa. Tarso sinalizou que tanto Aldo como Chinaglia têm condições de assumir um ministério.

- São candidaturas legítimas, e é assim que o presidente as vê. Sua vontade é que PT e PCdoB conversem, mas ele não vai fazer gestos de chamamento a Aldo ou Arlindo para que desistam - afirmou Tarso, ressaltando que os dois são "personalidades políticas maduras, comprometidas com o governo".

Tarso disse que o presidente não está tratando de nomes para o Ministério, mas admitiu que os dois têm condições de assumir uma pasta. Interlocutores do presidente têm dito que, para compensar o derrotado, Lula ofereceria um ministério.