Título: Tucanos atacam inquérito da PF sobre dossiê
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 29/12/2006, O País, p. 5

PSDB afirma que só 'personagens laterais' foram indiciados; PT considera o relatório 'inconsistente'

SÃO PAULO. O PSDB criticou ontem a conclusão do inquérito feito por agentes da Polícia Federal sobre o dossiê negociado por petistas que seria usado contra políticos tucanos às vésperas das eleições de outubro. Em nota, o partido lamentou que as investigações da PF tenham resultado apenas no indiciamento de "personagens laterais" ao caso. Entre os indiciados, estão o senador Aloizio Mercadante, que concorreu ao governo de São Paulo pelo PT, e José Giácomo Baccarin, coordenador da sua campanha. O PT divulgou nota anteontem considerando o relatório policial "inconsistente e especulativo".

Para o PSDB, o inquérito "pouco revelou além do que já era de conhecimento público". "(A PF) surpreendentemente concluiu pelo indiciamento de personagens laterais ao episódio, meros instrumentos dos reais responsáveis, deixando de indagar questões fundamentais como: a quem interessaria o dossiê?, a quem serviam os criminosos presos em flagrante?" diz um trecho da nota do partido.

PSDB acusa "parcialidade" na investigação da PF

Na opinião dos tucanos, o relatório foi centrado apenas no diretório paulista do PT, "ignorando solenemente as evidentes relações dos portadores do dinheiro com figuras proeminentes do PT, da sua direção nacional, da campanha presidencial do candidato Lula e do próprio Palácio do Planalto".

Entre os indiciados pela PF, estão os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, que atuavam na campanha presidencial petista. Os dois foram presos enquanto negociavam o dossiê com o empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam, considerado o chefe da quadrilha que negociava propinas com parlamentares envolvidos no escândalo dos sanguessugas. A PF também indiciou os donos da agência de câmbio de onde saiu parte do dinheiro que seria usado na compra do dossiê.

"A prevalecerem as conclusões do inquérito até agora, estará evidenciada a parcialidade das investigações em um episódio que deixará uma mácula sobre a Polícia Federal, deslustrando a imagem da corporação", diz a nota tucana.

Já o PT reagiu ao inquérito dizendo que o indiciamento de Mercadante e Baccarin será "derrubado na Justiça":

"O relatório policial é inconsistente e especulativo e tenta atribuir ao senador Mercadante e ao companheiro Baccarin o ônus de provar suas inocências, sem acusações consistentes", diz a nota petista, que continua: "Esse indiciamento será derrubado na Justiça e os dois companheiros, de conduta política exemplar e injustamente acusados, têm toda a solidariedade do Partido dos Trabalhadores".

Petistas atribuem negociação a "alguns militantes"

O assessor de comunicação da campanha de Mercadante, Hamilton Lacerda, admitiu ter negociado o dossiê com a revista "IstoÉ". A direção da revista confirmou que Lacerda esteve na redação para tratar do assunto.

Sem citar nomes, a nota divulgada pela direção do PT condenou o envolvimento de "alguns militantes" do partido no caso: "A direção nacional e o senador Mercadante condenaram a iniciativa de alguns militantes do partido envolvidos na compra de supostos documentos, alheia a nossas práticas e que trouxeram enorme prejuízo a nossas candidaturas no âmbito federal e nos estados, particularmente em São Paulo".

Lula disse confiar na inocência de Mercadante

No sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também criticou o inquérito e disse ter "confiança absoluta" em Mercadante. Lula disse não entender os motivos que levaram os agentes da PF a indiciar o senador petista.

- Indiciamento é indiciamento. É a visão de um ou dois delegados que fizeram a apuração. Tenho a mais total e absoluta confiança no companheiro Aloizio Mercadante. Não consigo entender como os delegados encontraram uma forma de incluir o Mercadante. Mas eu estou convencido de que ele é tão inocente como qualquer um de vocês - disse o presidente a jornalistas.