Título: Governo pode retardar execução de Saddam
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Fonte: O Globo, 29/12/2006, O Mundo, p. 32

Motivo seria discordância sobre data de enforcamento. Nos EUA, Bush diz que plano para o Iraque progride

BAGDÁ. Pressionadas para estabelecer uma data para a execução do ex-ditador do Iraque Saddam Hussein, autoridades do país deram sinais, ontem, de que a sentença pode não ser aplicada até 26 de janeiro - o prazo estabelecido pela Justiça. O motivo seriam discordâncias entre os diferentes setores que compõem o governo. O curdo Bosho Ibrahim, vice-ministro da Justiça, foi categórico: "Apesar de a decisão (de enforcar Saddam) ser irrevogável, não ocorrerá no próximo mês."

O vice-ministro explicou que a data para a execução de Saddam só pode ser marcada via decreto presidencial. Caso isso não ocorra, é o Ministério da Justiça que estabelecerá a data. Tanto Ibrahim como outros ministros iraquianos, no entanto, afirmaram que está longe de se chegar a um acordo. O presidente Jalal Talabani, que é curdo, já disse que não assinará o decreto, por ser contrário à pena de morte, mas delegou esse poder para seus dois vice-presidentes, um sunita e um xiita. Integrantes importantes dos dois grupos, no entanto, temem que a execução agrave a violência sectária que aflige o país. Muitos curdos gostariam, além disso, de ver Saddam sendo julgado por outro crime - pelo qual não recebeu sentença - o de genocídio pela chamada operação Anfal, nos anos 80, que matou milhares de curdos iraquianos. E Saddam foi condenado somente pelo massacre de 148 xiitas em Dujail.

- Tudo isso retardaria o processo - disse Ibrahim.

Vaticano pede que Saddam não seja morto

Enquanto as discussões se intensificam no Iraque, o Vaticano criticou a sentença de morte contra Saddam, afirmando ser errado compensar crimes com um outro. Em sua edição de ontem, o jornal italiano "La Repubblica" cita declaração de uma das maiores autoridades da Santa Sé, o cardeal Renato Martino, que disse que a vida deve ser protegida desde a concepção até a morte, "que deve ser natural e não por execução".

No Texas, onde reuniu-se em seu rancho com assessores, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou "que um plano estratégico para o Iraque está progredindo", e deve ser anunciado em janeiro. Ontem, mais cinco soldados americanos foram mortos no país e pelo menos 17 civis iraquianos morreram em ataques em Bagdá.