Título: EUA liberam venda de carne e leite de clone
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Fonte: O Globo, 29/12/2006, O Mundo/ Ciência e Vida, p. 34

Agência de saúde americana diz que produtos são seguros e não precisam de rótulo. Medida provoca protestos

WASHINGTON. O governo americano decidiu que produtos alimentícios feitos a partir de animais clonados são seguros para consumo e não requerem rótulos especiais. A decisão não chegou a ser uma surpresa. Em artigo publicado numa revista científica no início deste mês, a Administração de Drogas e Alimentos (FDA na sigla em inglês) já indicava que aprovaria o consumo humano de animais clonados sem restrições.

Grupos de defesa do consumidor exigiam que a clonagem fosse indicada em rótulos especiais porque pesquisas apontam que a população se sente desconfortável com a idéia de consumir animais clonados. A FDA, no entanto, concluiu que esses animais são "indistinguíveis" dos demais e que, por isso, não havia a necessidade de identificação especial.

Críticos apontam questões éticas da clonagem

"Carne e leite de clones e sua prole são tão seguros para consumo quanto como os derivados de outros animais", escreveram Larisa Rudenko e John C. Matheson, da FDA, na edição de janeiro da "Theriogenology".

Rótulos especiais só devem ser usados se as características dos alimentos são significativamente alteradas pela maneira como são produzidos, segundo Barb Glenn, da Organização da Indústria de Biotecnologia.

- Não queremos desinformar os consumidores com mensagens que poderiam indicar alguma diferença - explicou Glenn. - Não há diferença. Esses alimentos são tão seguros quanto aqueles provenientes de animais criados de forma convencional.

Mas os críticos da clonagem discordam com veemência.

- Os consumidores receberão um produto com potenciais problemas de segurança e com uma série de questões éticas sem nenhum rótulo especial - afirmou Joseph Mendelson, diretor do Centro de Segurança Alimentar.

Carol Tucker Foreman, diretora de política alimentar da Federação de Consumidores da América, afirmou que a FDA está ignorando pesquisas que mostram que a clonagem resulta em mais mortes e animais deformados do que outras tecnologias de reprodução. Ela disse ainda que a federação pedirá às empresas de alimentos e supermercados que se recusem a vender produtos derivados de clones.

- Carne e leite de animais clonados não apresentam nenhum benefício para os consumidores e eles não querem isso em sua comida - afirmou.

A aprovação final dos animais clonados na alimentação ainda demora alguns meses. A FDA aceitará comentários públicos após a divulgação do comunicado oficial de sua decisão.

Entenda a clonagem

A clonagem consiste em colocar no núcleo de um óvulo previamente esvaziado o material genético do animal que se pretende copiar. Assim, o clone resultante é, na verdade, como um gêmeo univitelino do animal que cedeu o DNA: do ponto de vista genético, eles são idênticos.

Por isso os cientistas da Administração de Drogas e Alimentos dos EUA sustentam que não há razão para proibir o consumo desses animais. Tampouco há necessidade de um rótulo especial apontando a condição do produto.

- Não estamos falando de animais modificados geneticamente, nenhum gene é alterado, transferido ou deletado - ressalta Barb Glenn, da Organização da Indústria de Biotecnologia. - É simplesmente um gêmeo genético que podemos usar para reprodução.

A tecnologia seria usada basicamente para a reprodução de animais considerados excepcionais, como porcos que engordam mais rapidamente e vacas que são grandes produtoras de leite. Dessa forma, os criadores aumentam as chances de ter descendentes com as mesmas características.

No Brasil, por exemplo, a técnica vem sendo usada para criar cópias de grandes reprodutores ou animais de competição. Sobretudo por se tratar de uma tecnologia cara, a clonagem não é usada indistintamente.