Título: Assembléia gaúcha rejeita medidas de Yeda
Autor: Oliveira, Chico
Fonte: O Globo, 30/12/2006, O País, p. 8

Nem PSDB, partido da governadora eleita, apoiou pacote de propostas que elevava impostos e cortava cargos

PORTO ALEGRE. A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul impôs ontem uma dura derrota à governadora eleita Yeda Crusius (PSDB), rejeitando integralmente o pacote de medidas proposto por ela e apresentado, a seu pedido, pelo governador Germano Rigotto (PMDB). O próprio partido da governadora e toda a base aliada deram votos contra o pacote. À frente de empresários e sindicalistas, na pressão sobre os parlamentares, estava o vice-governador eleito Paulo Afonso Feijó (PFL), que chegou a participar de uma passeata dos empresários contra o pacote e esteve em plenário durante a maior parte da votação, que durou seis horas.

- A Assembléia soube ouvir as manifestações da sociedade, que não queria e não aceita mais esse tipo de intervenção e autoritarismo proposto por alguns tecnocratas que querem controlar o futuro do Rio Grande do Sul - disse Feijó.

Governo vai buscar novos meios para sanear finanças

Yeda acompanhou a maior parte da votação no diretório estadual do PSDB, onde disse que respeitava a decisão da Assembléia. Com a rejeição de sua proposta, ela disse que buscará outros instrumentos para o saneamento financeiro do governo gaúcho:

- A partir do dia 1º de janeiro, buscaremos instrumentos para fazer as mudanças com as quais a gente se comprometeu com a população. A Assembléia tem autonomia, tem liberdade, entendeu fazer dessa forma. Não quer ser co-responsável por mudanças estruturais, não quis aprovar os fundamentos estruturais - disse Yeda.

A governadora afirmou que agora vai procurar outras formas de resolver a situação, destacando que seu pacote "seria menos custoso para a sociedade".

- Agora, o custo vai ser maior para a sociedade, nós vamos ter mais trabalho, mas eu respeito a decisão da Assembléia - disse.

O pacote de medidas rejeitado pela Assembléia previa manter alíquotas adicionais de 3% a 4% para combustíveis, energia elétrica e telefonia que vigoraram neste ano. Também aumentava alíquotas de refrigerantes, bebidas, cigarros e outros produtos; suspendia incentivos; estabelecia um limite para ressarcimento às exportações; congelava os salários do funcionalismo por dois anos; cortava 30% das despesas e 20% dos cargos em comissão, entre outras medidas.

Faltou apoio até no partido de Yeda. O líder da bancada do PSDB, Ruy Pauletti, renunciou ao cargo antes da votação, porque decidira votar contra o pacote. O secretário de Agricultura escolhido por Yeda, Jerônimo Goergen (PP), também decidiu votar contra e renunciou ao futuro cargo anteontem à noite.

Futura governadora liberou aliados para derrotar medidas

Logo após a votação do primeiro projeto do pacote, o chamado "projeto mãe", derrotado por 28 votos a 24, o deputado, César Busatto (PPS) subiu à tribuna e anunciou que não ficaria para a votação dos projetos isolados, frisando que não havia mais sentido votá-los.

Para Busatto, faltou comando político de Yeda em plenário. O presidente da Assembléia e futuro chefe da Casa Civil de Yeda, Luiz Fernando Záchia, fez constatação semelhante:

- Quem era o deputado que representava o novo governo? Nenhum. Yeda deve se aproximar dos partidos que estão compondo o governo e esses partidos têm que se alinhar, afinados, mas isto só vem com o tempo - disse Záchia.

Após a derrota do primeiro projeto, houve um acordo para derrubar todas as propostas. Vendo o que acontecia, o novo líder do PSDB, Adilson Troca, foi à tribuna e informou que Yeda estava liberando não só seu partido mas todos os aliados para votar contra as medidas.

A derrota então foi esmagadora e sem precedentes na Casa. O projeto que criava o Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza - e aumentava as alíquotas de diversos produtos, como refrigerantes e cervejas - foi derrotado por 38 a 2. O projeto que criava o Fundo de Garantia da Previdência Pública Estadual, como reserva financeira para futuras despesas previdenciárias, recebeu 32 votos contrários e apenas quatro a favor. E o projeto que criava reserva financeira para o equilíbrio orçamentário teve uma derrota ainda mais expressiva: 33 votos contra e nenhum favorável.