Título: Lula vai interferir na eleição da Câmara
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 30/12/2006, O País, p. 8

Presidente decide propor acordo a Aldo e Chinaglia e pode oferecer ministério

BRASÍLIA. Depois de ter afirmado que não iria interferir na disputa pelo comando da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu agir para evitar um conflito na base aliada. Ele resolveu ontem que vai chamar os dois candidatos, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que disputa a reeleição, e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para propor um acordo pela candidatura única.

Lula deve conversar com os dois separadamente ainda na próxima semana. Ele confidenciou a interlocutores que pretende encaminhar uma solução política para a crise, antes de sair para um período de dez dias de descanso, dia 5 de janeiro. O presidente está convencido de que há apenas uma saída para o impasse: o lançamento de uma candidatura única, e tentará convencer os dois aliados da importância dessa decisão.

Defesa pode ser compensação por desistência

Lula pode usar a reforma ministerial para compensar com um cargo no primeiro escalão do governo o candidato que desistir. Para assessores palacianos, o Ministério da Defesa é a principal pasta que pode ser usada para compensar quem desistir da disputa.

A avaliação é de que tanto Chinaglia como Aldo têm perfil adequado para cuidar da pasta, que hoje é fonte de problemas para o Planalto, principalmente por causa da crise no setor aéreo, que já dura três meses. Chinaglia já foi cotado também para o Ministério da Saúde, mas o PMDB está de olho na pasta.

O presidente está preocupado com a repercussão de uma disputa sangrenta entre Aldo e Chinaglia. Para ele, isso pode enfraquecer a governabilidade já no início do segundo mandato, porque seria inevitável um racha na base governista com conseqüências imprevisíveis.

Lula tem citado com freqüência o episódio da divisão petista, há dois anos, que acabou possibilitando a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara. Para ele, esse foi o fator que levou o governo a enfrentar uma das piores crises política do primeiro mandato. Na ocasião, o próprio Lula evitou intervir na disputa e deixou livre o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) para enfrentar o candidato oficial do PT, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).

"Aldo está com os deputados", diz presidente

Ontem, Lula demonstrou, em mais de uma oportunidade, que não vai considerar Aldo um candidato de oposição, como acusam setores do PT que apóiam Chinaglia. A estratégia do comando da candidatura petista para tentar ganhar o apoio do Planalto é vincular Aldo como o candidato que tem o apoio do PFL e PSDB. Lula discorda dessa tese.

- O pessoal do PT fica dizendo que o Aldo está com o PSDB e o PFL. Eu digo que o Aldo está com os deputados, o que é natural - disse Lula.

O presidente demonstrou ainda gratidão por Aldo e reconhecimento pelo trabalho do atual presidente da Câmara.