Título: Em 2005, tráfico matou quatro acusados
Autor: Ramalho, Sérgio e Araújo, vera
Fonte: O Globo, 30/12/2006, Rio, p. 11

A morte de sete pessoas no incêndio do ônibus da Viação Itapemirim demonstra que a lógica dos traficantes mudou. No dia 30 de novembro de 2005, quatro traficantes supostamente responsáveis por um ataque a um ônibus da linha 350 (Passeio-Irajá), em Brás de Pina, foram executados por parceiros de crime. Ao lado dos corpos, um cartaz, atribuído ao tráfico, foi deixado com os dizeres: "Taí os quatro que queimaram o ônibus. Nosso (nome da facção) não aceita ato de terrorismo". Os cadáveres foram deixados dentro de um Meriva prata, abandonado na esquina das ruas Bento Cardoso e Jacaraú. Segundo a polícia, que foi avisada sobre onde encontrar o carro, os quatro homens foram executados com tiros de escopeta e fuzil.

No ataque ao 350, traficantes dos morros do Quitungo e da Fé jogaram gasolina no veículo, nos passageiros e atearam fogo. Cinco pessoas morreram - entre elas uma criança de 1 ano - e 14 ficaram feridas por queimaduras. Segundo passageiros, os bandidos não deixaram o motorista abrir a porta traseira para que as pessoas saíssem.

O ataque aconteceu pouco depois das 22h. De acordo com relatos de um passageiro, quatro adolescentes fizeram sinal para o ônibus. Quando o motorista parou, um jovem com idade entre 20 e 25 anos, com uma garrafa plástica nas mãos, pulou a roleta, jogou gasolina no corredor do ônibus e nos passageiros. Ao mesmo tempo, um outro bandido tirava o motorista à força do veículo.

Traficantes comemoraram ataque a ônibus em novembro de 2005

O bandido que havia pulado a roleta voltou, enquanto o outro riscava um fósforo, iniciando o incêndio. Outros criminosos - segundo a testemunha eram 12, mais as quatro adolescentes - ficaram do lado de fora, jogando pedras nas janelas do ônibus. Alguns passageiros escaparam com o corpo em chamas e saíram correndo pela rua.

Após o atentado, traficantes fugiram para o Morro da Fé, comemorando. Usando radiotransmissores, eles debocharam de PMs que foram para o local do ataque. As provocações foram ouvidas pelos policiais, que eram chamados de "azuis", numa referência à cor da farda usada por eles. "Vai dar trabalho pros azuis! Tá queimando", dizia um dos marginais.

A morte dos quatro bandidos teria sido determinada pelo traficante Marcelinho da Vila Cruzeiro, do Morro da Chatuba, na Penha. O traficante Anderson Gonçalves dos Santos, o Lorde, apontado como o mandante do ataque ao 350, foi condenado a 444 anos e seis meses de prisão em novembro deste ano. Antes dele, Alberto Maia da Silva, o primeiro acusado a se sentar no banco dos réus, foi condenado, no dia 1º de novembro, a 309 anos e cinco meses de reclusão.