Título: Parentes de vítimas fazem exame de DNA
Autor: Ramalho, Sérgio e Araújo, vera
Fonte: O Globo, 30/12/2006, Rio, p. 11

Objetivo é identificar corpos de passageiros que estavam em ônibus incendiado por bandidos na Avenida Brasil

Parentes de quatro dos sete passageiros que morreram queimados dentro do ônibus da Viação Itapemirim estiveram, ontem pela manhã, no laboratório da Academia de Polícia (Acadepol), para fazer exames de DNA. Técnicos vão comparar o material retirado dos corpos carbonizados com o de parentes das vítimas. O resultado sairá em 30 dias. Muita tristeza e revolta marcaram a passagem dos parentes pela Acadepol. Todos reclamaram da Itapemirim, já que nenhum funcionário teria sido escalado para orientá-los quando chegassem ao Rio. O ônibus, que seguia do Espírito Santo para São Paulo, foi atacado na madrugada de quinta-feira na Avenida Brasil.

O supervisor de custos José Grandi, que estava acompanhado da mulher, Adriana Grandi, esteve na Acadepol para ajudar na identificação do corpo da mãe, Horminda dos Santos Grandi, de 78.

- Está sendo uma via-crúcis. Além de perder a minha sogra, eu e meu marido estamos sofrendo desde o final da tarde de quinta-feira, quando soubemos de tudo pela televisão. Ninguém nos comunicou nada - disse Adriana, que veio de São Paulo.

José contou que a mãe tinha ido ao Espírito Santo visitar uma das filhas.

- Ela sempre visitava minha irmã no Espírito Santo. Estamos sofrendo muito porque minha mãe sempre foi muito boa e não merecia morrer assim - disse ele.

Sentado num banco da Acadepol, chorando, Antônio Coelho Pereira, de 39 anos, aguardava ontem a sua vez para fazer o exame. Ele é filho do aposentado Florentino Alves Pereira, de 80 anos, ex-funcionário da Rede Ferroviária Federal, outra vítima que morreu queimada.

- Meu pai era um homem muito bom, estava desfrutando a vida. Ele me disse, na semana passada, que estava muito feliz. Eu e meus seis irmãos perdemos uma grande pessoa. Ele não merecia essa morte violenta - disse Antônio.

Outra que esteve na Acadepol foi a doméstica Sueli da Silva Araujo, filha de Jassi Maria de Jesus Silva, de 63 anos, e irmã de Celso da Silva, de 38, ambos mortos no ataque ao ônibus.

- Minha mãe e meu irmão tinham ido a Vitória para a formatura de uma sobrinha minha. Nossa família está muito abalada por causa desse acontecimento. Foi uma tragédia muito grande - disse Sueli.

Modelo sem previsão de alta

Vítima está inconsciente e respira com ajuda de aparelhos

O estado de saúde da modelo Maria Beatriz Furtado de Araújo, de 29 anos ainda é grave. Inconsciente e respirando por aparelhos, ela está internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital São Lucas, em Copacabana. Ela foi submetida ontem a procedimentos cirúrgicos para troca dos curativos, respira com auxílio de aparelhos, necessita de cuidados intensivos e não tem previsão de alta do CTI.

Maria Beatriz teve 40% do seu corpo queimados, no incêndio do ônibus. Ontem, ela recebeu a visita de amigos e do marido Roberto Bacelar. Indignado, ele não quis falar com a imprensa, mas a amigos, confidenciou:

- Neste momento, minha companheira não deve ser vista como uma modelo, mas como uma cidadã vítima de um crime bárbaro, que, infelizmente, neste país, pode acontecer com qualquer pessoa.

A indignação com o fato não é exclusiva dos parentes das vítimas. Desde quinta-feira, o hospital recebeu inúmeras ligações de pessoas de todo o Brasil, prestando solidariedade.

Feridos no ataque continuam internados

Além da modelo Maria Beatriz Furtado de Araújo, de 29 anos, outros quatro passageiros do ônibus número 6011, da Viação Itapemirim, com 28 passageiros, que fazia a viagem de Cachoeiro de Itapemirim a São Paulo, incendiado quando passava pela Avenida Brasil, continuam internados por causa de queimaduras, de acordo com boletim divulgado pela própria empresa. Sete corpos foram encontrados carbonizados dentro do veículo e ainda serão identificados por exames de DNA em cerca de 30 dias. Outros 16 passageiros já foram liberados.

Elias Batista dos Santos está em estado gravíssimo no Hospital Pedro II, em Santa Cruz, com 75% do corpo atingido. Na mesma situação está Fernanda Furtado que permanece internada no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Souza Aguiar com 54% do corpo atingido. Já Maria da Penha Moraes está em estado grave, com 20% do corpo com queimaduras. Flávia S. Aranha Neto também está hospitalizada.