Título: Briga de foice
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 31/12/2006, O País, p. 2

O retorno do deputado Ricardo Berzoini (SP) à presidência do PT vai ocorrer na quarta-feira. Afastado do comando do partido no meio da campanha eleitoral, quando estourou o escândalo da compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra, Berzoini não foi indiciado no inquérito da Polícia Federal. Apesar disso, sua volta à presidência está sendo contestada.

Os petistas que fazem oposição ao chamado Campo Majoritário, integrado pela tendência Unidade na Luta, da qual Berzoini faz parte, não querem saber de sua volta ao comando do partido. Essa posição foi comunicada a Berzoini nas conversas que manteve, nos últimos dias, com membros da executiva, quando comunicou seu retorno.

Esses acusam Berzoini de ser o responsável político pela desastrosa operação da compra do dossiê da família Vedoin. Lembram que ele próprio afirmou, diante do diretório nacional, que era o responsável pela contratação dos chamados aloprados. Os parlamentares petistas, sobretudo os paulistas, atribuem a esse fato a redução da bancada de deputados. O deputado Professor Luizinho (PT-SP) diz que já havia conseguido reverter as perdas com o escândalo do mensalão, quando veio o dossiê e devastou todo o trabalho de recuperação de imagem que havia desenvolvido. Nesse contexto, esses petistas minimizam o principal argumento de Berzoini para reassumir, o de não ter sido indiciado pela CPI dos Sanguessugas nem pela investigação da Polícia Federal. E sentenciam: o chefe dos aloprados não tem condições de presidir o PT. Essa não é a posição dos moderados, que não vêem razão para Berzoini ser punido por algo que a polícia e a Justiça não o responsabiliza.

Os petistas, a despeito dos erros e pecados cometidos nos últimos dois anos, vivem dizendo que são vítimas do denuncismo da mídia. Mas neste momento alguns tentam se livrar, alegremente, como já fizeram em ocasiões anteriores, de dirigentes partidários que viraram matéria negativa nos jornais. Essa conduta revela que a briga interna, que vai desembocar no congresso do partido, previsto para julho, já está comendo solta. Para a esquerda petista, que almeja assumir o comando do partido, interessa o afastamento definitivo de Berzoini, e que os moderados sofram um novo revés ético.