Título: Violência e geração de receita são os desafios de Eduardo Campos
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 31/12/2006, O País, p. 10

Socialista tentará cortar gastos e aumentar arrecadação em Pernambuco

RECIFE. Ao assumir amanhã o Palácio do Campo das Princesas, o governador Eduardo Campos (PSB) encontrará um estado com indicadores sociais preocupantes: a taxa de mortalidade infantil é superior à do Nordeste - 41,2 óbitos por mil nascidos vivos contra 38,2 da região - e o índice de analfabetismo funcional chega a 32,4%. Pernambuco tem dificuldades de abastecimento de água e de saneamento básico. Os números da violência estão entre os três piores do país. Para enfrentar esses problemas, o socialista afirma que tem pela frente um desafio ainda maior: gerar recursos próprios, tentando duplicar a receita estadual.

- Essas áreas precisam de dinheiro. É necessário conseguir equilíbrio fiscal e geração de caixa para fazer frente às demandas. Com a geração de caixa de R$225 milhões próprios por ano, não se tem intervenção de qualidade em segurança, ciência e tecnologia, saúde, educação. Se podemos resumir, um grande desafio nosso será a capacidade de intervenção com o dinheiro. Dinheiro não só próprio, mas na medida que se tem maior alavancagem, vamos buscar mais recursos de contrapartida.

Expectativa é dobrar receita em 24 meses

Ex-assessor de Aécio vai ajudar na 'gestão de qualidade do gasto'

RECIFE. Eduardo Campos disse acreditar que, no primeiro ano de governo, pode colher resultados do maior controle de despesas, mas espera que, ao final de 24 meses de gestão, tenha conseguido ampliar em 100% a receita estadual.

- Vamos aumentar o caixa enxugando despesas e tornando mais eficiente a máquina arrecadadora.Temos um programa de gestão de qualidade do gasto que vai ser implantado. Os secretários serão parte desse esforço. O estado tem que contratar melhor, pagar mais barato e em dia e contratar serviços ou fazer compras pelo sistema de pregão eletrônico. Não se justifica que o aluguel de um automóvel tenha preços diferentes para duas secretarias. Acho que a transparência das contas públicas vai ajudar nessa tarefa - previu o governador eleito.

Ele convocou para ajudá-lo na tarefa o consultor Vicente Falconi, que se tornou conhecido por ter assessorado o governador Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais. O governador já anunciou que o seu salário e dos seus secretários estão congelados e manteve as 15 secretarias registradas na administração anterior, mas acrescentou mais uma secretaria executiva às seis do governo passado.

Campos diz que quer encerrar o seu governo com universalização do fornecimento de energia - iniciada há 20 anos por seu avô, o então governador Miguel Arraes - e abastecimento de água. Em Pernambuco, embora os órgãos oficiais garantam que 92% da população têm água em casa, o estado enfrenta racionamento há mais de dez anos, e no interior é comum haver distribuição de água em carros pipa ou lombo de jumento. Só 22% dos moradores das cidades têm esgoto sanitário.

Estado só perde em homicídios para o Rio

Outro desafio é a violência. Pernambuco só perde para o Rio de Janeiro nas taxas de homicídios. De acordo com o último Mapa da Violência, divulgado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI), em Pernambuco são mortas 50,5 pessoas por cada 100 mil habitantes. Entre os jovens os números saltam para 101,5 por 100 mil. O estado ostenta maior número de homicídios contra mulheres, quase uma vítima por dia: uma morte a cada 28 horas, segundo números oficiais.

O governador foi eleito com o apoio de 17 partidos, do PCdoB ao PP. Desses, cinco foram contemplados no primeiro escalão.

Campos assume às 15h de amanhã. Empossado na Assembléia Legislativa, segue a pé para o Palácio do Campo das Princesas, atravessando a ponte sobre o rio Capibaribe. Em seguida, participa de transmissão de cargo e conduz o governador José Mendonça Filho (PFL) à saída do Palácio. Depois, discursa na sacada do palácio. Por fim, haverá um show popular.