Título: Equipe de Yeda prepara pacote de emergência
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 31/12/2006, O País, p. 15

Secretário de Fazenda não descarta moratória e atrasos de salários

PORTO ALEGRE. Enquanto a tucana Yeda Crusius se prepara para ser empossada às 16h de amanhã como a primeira governadora do Rio Grande do Sul, a equipe que trabalha na estruturação de seu governo, chefiada pelo ex-aluno e futuro secretário de Fazenda Aod Cunha, corre para elaborar, em caráter de emergência, um plano alternativo ao pacote de medidas com as quais o novo governo pretendia enfrentar a séria crise do estado e que foi rejeitado na sexta-feira pela Assembléia Legislativa. Aod não descarta a possibilidade de uma moratória nas dívidas e atraso no salário do funcionalismo, inclusive no primeiro mês de governo:

- A taxa de investimentos será zero. Como temos condições de pagar apenas oito folhas do funcionalismo durante o ano, vamos chegar a dezembro pagando os salários de agosto.

Perguntado sobre a moratória, respondeu:

- Sim, uma moratória também.

O novo secretário de Fazenda trabalha em tempo integral desde sexta-feira, reunindo-se com sua equipe em um hotel de Porto Alegre, em busca de saídas para compensar o R$1,450 bilhão negado pela Assembléia, dos quais 800 milhões em aumento de impostos.

Maiores secas da história agravaram situação

As contas gaúchas não fecham há 30 anos, mas chegaram ao ponto de maior gravidade em decorrência do abalo imposto à economia do estado em 2004 e 2005 pelas duas maiores secas da história. Apenas a soja e o milho, as duas principais culturas agrícolas do estado, tiveram perdas superiores a 70%. Para agravar a situação, a baixa do dólar nocauteou gravemente os segmentos de calçados, com o fechamento de mais de 60 indústrias e a demissão de 30 mil trabalhadores, bem como os de móveis, fumo e máquinas e equipamentos agrícolas.

Gastando mais do que arrecada e perdendo por dois anos uma parcela significativa de ICMS, em decorrência dos estragos no setor primário e seu impacto no comércio, indústria e serviços, o Rio Grande do Sul está com um déficit de R$2,3 bilhões, previsto por Yeda para o ano de 2006.

A promessa de Yeda de acabar com o déficit em dois anos dependia, segundo ela, do pacote que foi rejeitado. "Não há plano B", disse ela no meio da semana. Mas, confrontado com a possibilidade da derrota, Aod Cunha confessou:

- Estamos trabalhando sobre algumas alternativas - reconhecendo que a moratória e o atraso do funcionalismo já em janeiro estão entre essas possibilidades.