Título: Segurança e rodovias, desafios em MG
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 31/12/2006, O País, p. 15

Governador reeleito diz que eleição presidencial de 2010 não é sua prioridade

BRASÍLIA. Reeleito no primeiro turno com a segunda maior votação proporcional do país, o tucano Aécio Neves assume amanhã seu segundo mandato de governador de Minas Gerais já como um dos principais cotados à sucessão presidencial em 2010. Mesmo ciente de que não é o único dentro do PSDB com condições de pleitear a vaga, Aécio não pretende desperdiçar energia, pelo menos neste momento, com disputas internas no partido. Considera que suas atenções devem estar voltadas para os dois desafios mais imediatos: integrar as ações dos estados do Sudeste na área de segurança pública e conseguir um acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para estadualizar a malha rodoviária federal que corta Minas Gerais:

- Minas tem hoje a maior malha rodoviária federal do país, que se encontra em estado de calamidade. Espero ter oportunidade de ter uma conversa mais profunda sobre esse tema com o presidente, na busca da estadualização dessa malha rodoviária, com a transferência dos recursos da Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) para o estado. Minas se dispõe a ser o primeiro laboratório dessa experiência.

Para Aécio, o governo estadual pode cuidar melhor dessas rodovias do que a União:

- O governo tem de compreender que essa figura de rodovia federal é uma coisa que existe apenas no Brasil.

Segurança pública é outra preocupação de Aécio. Em reunião com demais governadores do Sudeste - Sérgio Cabral (RJ), Paulo Hartung (ES) e José Serra (SP) - ele acertou a instalação, em janeiro, de um gabinete estratégico de segurança regional, que se reunirá bimestralmente numa das capitais. A idéia é monitorar as ações ilegais nos estados, a troca de informações sobre a situação nos presídios, a liberação de presos e até mesmo na área fazendária, para identificar, por exemplo, cargas roubadas.

- É uma iniciativa inédita, mas com grande chance de dar certo agora - disse.

Segundo o governador, os investimentos do governo estadual na área de segurança pública teriam subido 700% ao longo dos últimos quatro anos. Para assegurar mais recursos para investimento, Aécio quer implementar o que chama de "choque de gestão de segunda geração" no estado, com a fusão de empresas e a extinção de alguns órgãos.

Ele diz que vai profissionalizar determinadores setores da administração pública, como as superintendências financeiras da máquina estadual, que serão ocupadas por funcionários com diploma da Universidade de Administração Pública de Minas.

- Vamos estabelecer novos mecanismos de controle do gasto público, pois não basta garantir recursos para investimento, é preciso que esse dinheiro seja bem gasto. Outro objetivo é criar uma burocracia estável e de qualidade.

"Vai perder quem apostar em disputa entre mim e Serra"

Aécio resiste em falar dos próprios planos para 2010, mas admite que o PSDB terá de fazer uma reflexão profunda sobre as duas últimas derrotas que colheu na disputa presidencial:

- Temos de ter a humildade de reconhecer que nos distanciamos de setores importantes do pensamento nacional, deixamos de ter identidade com determinadas regiões, como Norte e Nordeste. Devemos aproveitar esse período na oposição para nos reencontrarmos com esses segmentos. E quem sabe chegarmos no fim de 2007 com a revisão do programa do PSDB.

Na sua opinião, ainda é cedo para se discutir nomes para a próxima disputa presidencial:

- Vai perder quem apostar em disputa entre mim e o Serra. Nós temos muito o que fazer daqui para a frente, para governarmos nossos estados. Não é hora de gastar tempo estimulando a disputa entre grupos internos. Até porque sabemos que a chance que o PSDB terá no futuro depende da sua unidade - disse.