Título: Serra e Aécio apostam em parcerias com União
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 31/12/2006, O País, p. 15

Governador eleito de São Paulo monta Secretariado técnico para enfrentar desafios como a crise na segurança

SÃO PAULO. O sucesso da administração do tucano José Serra no maior estado do país, que começa amanhã, dependerá, em parte, da relação política com o governo federal. Um dos principais líderes da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - embora depois da última eleição tenha ensaiado uma aproximação com o Palácio do Planalto - Serra enfrentará problemas que, para serem solucionados, dependem também de parcerias com a União.

Da crise na segurança pública a problemas na educação e na saúde, passando pelo transporte e pela questão previdenciária do servidor, terá de se desdobrar para evitar que o governo federal adote política de conta-gotas ao investir em São Paulo.

Em meio ao período eleitoral, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), deu sinais de que os cofres do estado estão esvaziados. Lembo determinou a suspensão de gastos de quase todas as áreas e centralizou no seu gabinete a liberação de recursos. O orçamento do governo é de R$80 bilhões anuais. O contingenciamento chegaria a R$1,5 bilhão, embora técnicos do estado acreditassem que não haveria déficit.

Segurança é outro problema a ser enfrentado

A decisão foi tomada depois de a Secretaria da Fazenda anunciar uma receita de R$311 milhões - abaixo da expectativa do governo - nos primeiros meses do ano.

A segurança é outra preocupação de Serra e sua equipe. Diante dos ataques de bandidos nos últimos dias no Rio de Janeiro, ela volta a ser tema recorrente na equipe do tucano.

Depois que as investigações - após as três ondas de ataques comandadas por uma facção criminosa e levantes em penitenciárias em maio deste ano - apontaram para um controle paralelo de dentro das cadeias, o novo governo pretende restabelecer conversas com a União. O objetivo é pôr em prática a separação de chefes das organizações criminosas em presídios federais, o que se transformou em entrave na gestão anterior.

O tucano, cujo desempenho como gestor público já foi elogiado até por adversários políticos, aposta numa gestão tendo técnicos à frente da maioria das secretarias e no diálogo com aliados e com o governo federal.

Na esfera política estadual, Serra enfrentará a ofensiva da oposição (PT) para tentar tirar do papel quase 70 pedidos de CPIs engavetados nos últimos oito anos de administração tucana. A oposição quer pôr em pauta propostas de investigação referentes à segurança pública, como a CPI sobre chefes da principal organização criminosa que age no estado e a estrutura da Febem.

Na Assembléia Legislativa, deputados eleitos falam em "oposição propositiva". O primeiro teste será a reforma da Previdência. O projeto, que aumenta de 6% para 11% a alíquota de contribuição dos servidores públicos de São Paulo, chegou à Assembléia no meio deste ano sob forte oposição do PT.

Gestão técnica de olhos nas eleições de 2010

O assunto, porém, hoje é proibido entre assessores do tucano

SÃO PAULO. Ao assumir o governo de São Paulo, José Serra (PSDB) começa a pavimentar o caminho que deve percorrer até uma possível indicação do PSDB para disputar a eleição presidencial em 2010. Serra deu o primeiro passo para cacifar seu nome ao montar nas últimas semanas uma equipe de secretários de perfil mais técnico que político. O objetivo seria o de encarar a disputa daqui a quatro anos tendo em mãos um histórico de gestão pública que o equipare a dois possíveis adversários dentro do partido: o governador reeleito de Minas, Aécio Neves, e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que também devem postular o cargo.

No partido e entre os aliados de Serra, o assunto 2010 é praticamente proibido. O tucano não quer associar a sua imagem à de um político que abandonaria mandatos para disputar cargos mais altos. Serra deixou a prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo, mesmo depois de prometer, na campanha municipal, que exerceria o cargo até o final.

- Não existe a história de 2010. Mas o Serra está credenciado para qualquer coisa - diz o atual presidente da Associação Comercial de São Paulo e futuro secretário estadual do Trabalho, o empresário Guilherme Afif Domingos.

O caráter técnico da equipe, porém, acompanha uma linha administrativa que Serra adota desde que assumiu os primeiros cargos públicos. Foi assim nos ministérios do Planejamento e Saúde, ocasião em que foi premiado como gestor. Na Saúde, Serra deu início a um dos principais programas de combate à Aids de todo o mundo.

Sobre o Secretariado, amigos dizem que ele ouviu sugestões de todos os lados, mas que tomou a decisão final sozinho. Um dos primeiros escolhidos foi Mauro Ricardo da Costa, para a pasta da Fazenda. A partir daí, vieram as nomeações de cunho técnico. Para a Agricultura, escolheu João Sampaio, presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-presidente da Associação de Produtores de Borracha de Mato Grosso. Dilma Pena, atual coordenadora da revisão do Plano Diretor do município de São Paulo, ocupará a Secretaria de Energia e Saneamento.

A segurança ficará com Ronaldo Augusto Bretas Marzagão, que foi assessor técnico do gabinete de Segurança Pública no governo de Franco Montoro, em São Paulo. Um dos mais renomados promotores do país, Luiz Antonio Guimarães Marrey será o secretário de Justiça, enquanto a Saúde ficará com o atual secretário estadual da pasta, Luiz Roberto Barradas Barata, conhecido por sua eficiência administrativa.

Mas Serra também politizou alguns cargos.