Título: Obras em ritmo lento, muito lento
Autor: Rocha, Carla e Amora, Dimmi
Fonte: O Globo, 31/12/2006, Rio, p. 22

Estradas estaduais estão melhores, mas metrô só ganhou duas estações

Devagar, quase parando. É assim que as obras de infra-estrutura do governo do estado têm caminhado nos últimos anos. Com poucos recursos do orçamento destinados a investimentos, o casal Garotinho fechou seu ciclo com muitos projetos em andamento ou então muito atrasados, como metrô, trens, obras de despoluição da Baía de Guanabara e do emissário da Barra. Exceção à regra, o estado conseguiu ampliar e melhorar sua malha rodoviária.

O caso do metrô é emblemático. Em oito anos, apenas duas estações foram entregues na Linha 1 (Siqueira Campos e Cantagalo), faltando uma estação, em Ipanema. Na Linha 2, a ligação Estácio-Carioca não começou. A Linha 3 (São Gonçalo-Carioca) foi apenas licitada e a 4 (Botafogo-Barra), licitada em 1998, não saiu do papel. Ao ritmo de uma estação por governo, as 21 estações que precisam ser feitas nestas quatro linhas demorarão 84 anos.

Cedae dá prejuízo e PDBG está longe de atingir metas

O caso dos trens foi semelhante. Em 1998 havia um contrato assinado com o Banco Mundial para financiar a reforma das estações e a compra e a reforma dos trens, com instalação de ar-condicionado em todos. Os trens só foram comprados em 2005 e uma pequena parte chegou até agora. Os ônibus intermunicipais continuam funcionando num sistema desestruturado, com avanço cada vez maior de vans piratas.

Grandes obras, em geral, precisam de apoio da União ou de financiamentos externos. Endividado, o estado tem poucas opções de financiamento. As brigas com a União praticamente secaram os investimentos no Rio. Até para conseguir o dinheiro já liberado do metrô, o governo federal impôs dificuldades, atrasando a obra.

A briga do casal Garotinho com Lula pode ter sido a causa de a União não ter investido na mais importante obra rodoviária do Rio, o arco que ligará Itaguaí a Magé. Mas, na parte estadual, houve um grande investimento, apesar de algumas obras terem sido entregues com atraso. O Rio passou a ter 80% de suas estradas asfaltadas.

No saneamento, a Cedae não cumpriu sua função. A empresa não consegue receber quase metade da água que distribui. Grande parte dos moradores da Baixada Fluminense continua sem água e esgoto. Ainda assim, a empresa deu prejuízos, compensados com dinheiro público. Com a Cedae ficaram obras importantes como o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), assinado em 1994, por Leonel Brizola. As obras começaram em 1995, na gestão Marcello Alencar. Em 1999, Garotinho renegociou o contrato que teria o financiamento interrompido sem a conclusão da obra.

Prometia-se que até 2000 seria possível tratar 58% do esgoto jogado in natura na Baía. Praticamente todos os prazos foram descumpridos e o contrato foi renegociado várias vezes. Hoje, nem 30% do esgoto são tratados. Estações ficam prontas, mas não há redes coletoras para levar o material orgânico.

Galeria de cintura ajuda a despoluir lagoa

Se não conseguiu despoluir a baia, Garotinho evitou a poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas com a construção de uma galeria de cintura. Desde então, as mortandades de peixes diminuíram. Mas, nas lagoas da Barra, a situação piorou. O governo assumiu o compromisso de fazer uma obra há 20 anos atrasada: o emissário submarino.

Orçada em R$300 milhões, valor que já cresceu 50%, a obra previa para 2006 um emissário, uma estação de tratamento de esgoto (ETE) e a ligação da rede de esgoto dos imóveis à estação. Com atrasos, Rosinha entregou o emissário de 5,3km. Mas a rede só levará 30% do esgoto à ETE, que só retirará resíduos sólidos. A carga orgânica vai ser lançada no mar sem tratamento.

Na habitação, a principal obra dos dois governos é a construção do Nova Sepetiba, um projeto de dez mil casas iniciado por Garotinho. Era tão ruim que Rosinha interrompeu-o em 4.500 casas.

O BALANÇO NA EDUCAÇÃO na página 24