Título: Brasil debate modelo aéreo argentino
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 31/12/2006, Economia, p. 29

Sistema desmilitarizado de controle de vôos do país vizinho pode ser adotado

BUENOS AIRES. O governo brasileiro entrou recentemente em contato com autoridades argentinas para obter informações sobre o processo de desmilitarização do sistema aeroportuário que vem sendo implantado no país. Segundo fontes do governo argentino, as autoridades locais vão fornecer as informações requeridas pelo Brasil.

Nos últimos dias, importantes aeroportos argentinos, como Ezeiza, foram palco de protestos de controladores de vôos que reivindicam, entre outros itens, a efetivação de funcionários que trabalham sem carteira assinada. Segundo o presidente da Associação de Controladores do Trânsito Aéreo, César Salas, o protesto pode se estender por várias semanas.

- Vamos manter a ordem e a segurança, mas queremos respostas - disse Salas.

Argentina tira segurança de aeroportos da Aeronáutica

Em fevereiro de 2005, o governo de Néstor Kirchner iniciou um drástico processo de desmilitarização do sistema de segurança e controle do tráfego aéreo no país, desde 1950 nas mãos da Força Aérea. A primeira etapa desse processo começou com a criação da Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA), vinculada ao Ministério do Interior e que substitui a Polícia Aeronáutica Nacional (PAN), após a descoberta de 60 quilos de cocaína num avião da Southern Winds que partiu do Aeroporto Internacional de Ezeiza.

- Hoje temos um sistema de segurança policial nos aeroportos. Em 2005 foram retidos 420 quilos de cocaína, a mesma quantidade que nos quatro anos anteriores. Este ano já superamos 500 quilos - disse o interventor da PSA, Marcelo Saín.

A segunda etapa ainda não saiu do papel, mas o governo argentino já elaborou decreto que prevê a transferência do controle do tráfego aéreo para uma administração civil, o que deve ocorrer no ano que vem. Segundo Saín, os aeroportos eram uma fonte de negócios para a Força Aérea.

- Enfrentamos muita resistência, mas não por patriotismo. Os militares resistiram porque acabamos com um sistema generalizado de corrupção - disse o interventor.

Saín lidera a reforma do sistema de segurança nos aeroportos argentinos. A retirada dos militares, sustenta, permitiu a criação de uma força policial sem estrutura militar.

- Afastamos 25% dos funcionários antigos da PAN, que eram suspeitos de corrupção - disse Saín, acrescentando que a PSA tem hoje 2.500 membros, entre civis e alguns militares.

Nas últimas semanas, a Argentina retomou as discussões sobre a desmilitarização do controle do tráfego aéreo. O assunto foi debatido num seminário interno organizado pelo Ministério da Defesa.