Título: Apesar dos entraves, PIB pode crescer até 4%
Autor: Louven, Marisa
Fonte: O Globo, 31/12/2006, Economia, p. 31

Sem investimentos ou reformas, gargalos que frustraram expectativas em 2005 e 2006 devem permanecer

Correção da matéria:

Diferentemente do que foi publicado na página 31 de ontem, os analistas prevêem crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país) entre 3% e 4% em 2007, e não entre 3,8% e 4,3%. [publicada em 01.01.2007, na página 6 do Primeiro Caderno]

Pelo segundo ano consecutivo, as previsões se frustraram e a economia voltou a ter um crescimento medíocre, em torno de 2,8%. Mas as esperanças se renovam para 2007. Embora permaneçam os entraves que impediram a expansão nos últimos anos, mais de uma dezena de instituições consultadas esperam que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas pelo país) cresça até 4% - resultado que, se confirmado, ainda estará longe da meta de 5% do governo.

O câmbio valorizado foi a salvação e também o vilão da economia em 2006: permitiu atender ao crescimento da demanda interna sem gerar inflação, por meio da oferta de importados, e também desestimulou a produção nacional. Com o governo e o Congresso paralisados por denúncias de corrupção, não houve avanços nas reformas capazes de alavancar os investimentos.

Em 2006, a inflação, os juros e o câmbio ficaram abaixo do previsto, enquanto o saldo da balança comercial foi além das projeções mais otimistas. No geral, porém, a realidade decepcionou, com um crescimento do PIB mais próximo dos prognósticos pessimistas de 2,5% do que dos otimistas, de até 3,8%. Um dos maiores erros foi quanto à taxa de câmbio média, esperada entre R$2,25 e R$5,53, mas que terminou o ano em torno de R$2,15.

Saldo comercial superou expectativas otimistas

Uma das surpresas positivas foi a inflação. No fim de 2005, as previsões eram de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - parâmetro para o cálculo das metas de inflação do governo - chegasse a 4,8% em 2006, mas o resultado ficará em torno de 3,1%. Já a taxa básica de juros (Selic) encerrou o ano em 13,25%, abaixo dos prognósticos mais otimistas, de 14,5%.

A maior surpresa, porém, foi a sustentação das exportações, em função do aumento dos preços dos produtos exportados. O saldo comercial, previsto entre US$32 bilhões e US$39 bilhões, acabou ficando em cerca de US$45 bilhões, superando o recorde registrado em 2005. A entrada maciça de dólares no país provocou forte valorização do real, mas a competição com os importados prejudicou a indústria.

- O aumento dos preços internacionais explica o enorme superávit comercial e a apreciação do real, que ocorreu apesar de o Banco Central ter comprado quase US$30 bilhões no mercado à vista - diz o coordenador do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antonio Licha.

A avalanche de importações, que entram no cálculo das contas nacionais como contribuição negativa, também colaborou para que o resultado do PIB fosse fraco.

- O PIB do ano esconde um crescimento de demanda interna superior a 4%. O efeito câmbio deve permanecer em 2007 - afirma Solange Srour, da Mellon Global Investments.

Muitas são as explicações para os erros nas previsões. A economista Ana Carla Abrão Costa, da Tendências Consultoria, acredita que a principal é o imobilismo do governo.

- Todo mundo errou nas projeções porque não houve avanço nas reformas esperadas - justifica Ana Carla.

Os especialistas apostam numa expansão de 3,8% a 4,3% em 2007, principalmente porque a demanda externa vai continuar firme. O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Geraldo Langoni, acha que haverá uma desaceleração suave da economia mundial, mas com expansão ainda vigorosa da China. A economia do país também está virando com expansão de 3,5%, o que dá um impulso maior na largada do próximo ano, analisa Licha:

- A economia será alavancada pela queda adicional dos juros e pela continuidade da expansão da massa salarial e do crédito.

Oferta de energia pode ser gargalo ao crescimento

Mas segundo Carlos Cintra, do Banco Prosper, os entraves ao crescimento continuam e podem levar 2007 a ser mais um ano medíocre. Entre os problemas estão o aumento do gasto público, os gargalos na infra-estrutura e o limite da oferta de energia elétrica.

- O Brasil não cresce mais porque não merece crescer - resume o economista Fabio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), para quem o setor externo está "drenando o PIB".

Para o HSBC, a principal trava ao crescimento é a oferta de energia: cada 1% de expansão do PIB exige aumento de 700 MW médios da oferta existente, limitando a expansão do PIB a no máximo 3,9% ao ano entre 2007 e 2011. O equilíbrio fiscal também preocupa Marcelo Salomon, do Unibanco.

Tomás Málaga, economista-chefe do banco Itaú, calcula que o PIB potencial é inferior a 3%.

- Isso significa que os gargalos podem aparecer. Toda vez que a safra cresce muito, por exemplo, os portos não dão conta - afirma Málaga.

A notícia boa é que, em 2007 a Selic deve cair mais, aliviando a produção nacional e impulsionando o consumo. De acordo com Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, a taxa real efetiva média de juros de 2006 ainda ficou em 12,4%, acima dos 10,2% de 2005. Mas pode cair para 8,5% em 2007 se o IPCA ficar em torno de 4%.

Inclui quadro: "Os números da economia para o ano novo" [gráfico com a previsão de instituições financeiras para a Expansão do PIB, Inflação, Taxa Selic, Câmbio, Saldo Comercial]