Título: Novo mandato, velhas promessas
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/01/2007, O País, p. 3

No discurso de posse, Lula se comprometerá com crescimento sustentado, mais atenção à educação e à segurança

No discurso de posse que fará hoje à tarde no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai reforçar seu compromisso de um crescimento vigoroso e acelerado para avançar no desenvolvimento, sem descuidar da estabilidade do rigor fiscal. Dirá que pretende ter como marcas de seu governo a melhoria da qualidade na educação e a ampliação das oportunidades de emprego. E, numa abordagem que não estava prevista inicialmente, Lula assumirá o compromisso de aprofundar a cooperação com os estados para combater a violência ¿ o que já prometera ao tomar posse em 2003 e não cumpriu efetivamente. Poderá, inclusive, fazer referência aos ataques do crime organizado no Rio de Janeiro, semana passada.

Logo nos primeiros minutos do discurso, o presidente vai ressaltar que sua reeleição foi a expressão da vontade popular e que 58 milhões de eleitores votaram nele sem intermediários. Deve acrescentar que os eleitores se manifestaram de forma ¿enfática¿ e ¿independente¿ depois de quase dois anos de crise política, que atingiu partidos e autoridades do governo.

Lula dirá que essa manifestação popular referenda o projeto de mudanças dos últimos quatro anos. Além de sua obsessão atual com o desenvolvimento, repetirá também que a partir de agora não pode mais falar dos governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que a comparação será dele com ele mesmo.

Esse discurso será formal, terá cerca 30 minutos, e foi escrito pelo ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), juntamente com Lula, o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, e o publicitário João Santana, que comandou o marketing da campanha da reeleição. Mas, ainda ontem, estavam sendo feitos ajustes. A previsão era de que ele utilizaria a expressão ¿minha causa é o Brasil¿, para dar uma demonstração de que tem compromisso com todos os setores da sociedade brasileira.

Já no discurso que fará de improviso, no parlatório do Palácio do Planalto, está prevista um mensagem mais breve e em tom de celebração com os eleitores. O presidente deve reassumir os compromissos de campanha. No script, mais uma abordagem de sua origem simples e sua identificação com a população mais humilde. A idéia de improviso é justamente para dar um tom mais emotivo à posse.

¿ Vai ser um discurso em cima dos compromissos de campanha. Lula deve abordar a necessidade de desenvolvimento do país, da distribuição de renda e de emprego e da educação com qualidade. Será uma fala para frente, abordando os desafios do segundo mandato ¿ resumiu o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, sobre o discurso formal, no Congresso.

Na área econômica, Lula ressaltará que irá ¿manter a inflação sob controle¿ e vai enumerar as conquistas na economia no primeiro mandato, como a expansão da renda, o crescimento do crédito e do consumo, o superávit no comércio exterior, o menor índice do risco-país da história, além do controle da inflação. Nesse ponto, deve citar sua política externa e registrar a aproximação com países da América Latina, da África e da Ásia.

Ao falar de crescimento, Lula vai bater na tecla de uma transição para o desenvolvimento, dizer que o país tem que se libertar psicologicamente da idéia de que tem limites para crescer, mas será cuidadoso, evitando números, como a meta de 5% do crescimento do PIB para 2007 ou a redução da meta do superávit primário.

Reafirmando que continuará empenhado nas políticas de inclusão social e de combate à fome e à pobreza, Lula dirá que seu grande desafio será garantir ¿crescimento com desenvolvimento social¿. O compromisso de educação de qualidade será um dos pontos de destaque do discurso.

¿ Lula deve citar que incluir a educação como prioridade de seu governo é uma das formas de distribuição de renda. Ele deve destacar a melhoria da educação nos três níveis: fundamental, média e superior ¿ observou o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. ¿ Haverá também uma referência sobre a disposição do governo de acentuar a cooperação com os estados na área de segurança pública.

Diante dos parlamentares, o presidente Lula deve fazer uma convocação da classe política para uma ¿participação ativa¿ em reformas importantes, como a do sistema político. Será a oportunidade de Lula fazer uma referência discreta aos escândalos de corrupção que derrubaram políticos e comprometeram a imagem dos partidos. Lula também vai falar sobre a necessidade de conclusão da reforma tributária, que está paralisada, mas ressalvando que essa é uma missão da União e dos estados.

Lula dará ênfase à participação popular em seu governo. Vai citar como exemplo as conquistas consecutivas do salário mínimo nestes quatro anos, como um resultado da participação da sociedade. Inspirado por Dulci, ele deve destacar em seu discursos a expressão ¿governabilidade social¿. Nesse ponto, Lula deve defender a aproximação com os movimentos sociais.

COLABOROU Luiza Damé