Título: Relação com PT mudará no segundo mandato
Autor: Damé, Luiza e Fernandes, Eliane
Fonte: O Globo, 01/01/2007, O País, p. 10

Lula quer que legenda atue como as outras que integram a coalizão, para evitar que partido se confunda com governo

BRASÍLIA. Neste segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende mudar o relacionamento com seu partido. Lula quer que o PT tenha uma participação superior, mais crítica e mais altiva, como um dos partidos da coalizão. Mas que suas posições partam sempre de uma visão coletiva, tomada por todo o partido, e não por grupos ou correntes.

A idéia do presidente é evitar que o partido se confunda com o governo e que eventuais denúncias contra o PT e petistas atinjam o Palácio do Planalto frontalmente, como ocorreu com o escândalo do mensalão.

No primeiro mandato, especialmente quando José Dirceu ocupava a Casa Civil, PT e governo pareciam a mesma pessoa. Quem mandava no governo, mandava no PT e vice-versa. Por isso, os problemas do PT acabaram virando problemas do Palácio do Planalto, que foi obrigado a explicar as relações nebulosas do partido com o publicitário Marcos Valério.

Em outros momentos, a máquina do governo foi usada para injetar recursos no partido, como no caso da compra de ingressos, pelo Banco do Brasil, para o show da dupla Zezé Di Camargo e Luciano. O evento seria para arrecadar fundos para a compra da sede do PT, no primeiro ano do governo Lula.

¿ O maior desafio do PT será reconstituir o seu projeto político estratégico, apoiar o governo com decisão e sabedoria e ter autonomia e soberania para tomar posições independentes ¿ diz o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

Berzoini reassume amanhã presidência da legenda

É ciente das exigências de Lula para um novo padrão de relacionamento com o PT que o deputado Ricardo Berzoini (SP) reassume amanhã a presidência da legenda. No fim deste ano, o PT fará a renovação da direção partidária. Esses dirigentes, além de afinados com os desejos atuais do presidente Lula, terão que ter também despreendimento suficiente para, se necessário, ter papel secundário numa eventual aliança com partidos aliados na sucessão presidencial de 2010.

Em meio ao escândalo do mensalão, que derrubou o então presidente do PT, José Genoino, em 2005, Tarso foi escolhido por Lula para assumir a presidência e moralizar o partido. Logo depois foi derrotado por José Dirceu, que conseguiu levar Ricardo Berzoini para o cargo.

¿ Um partido aliado e um partido estratégico como o PT é um partido que apóia o presidente e seus projetos, mas não se dissolve no Estado e não está subordinado a ninguém. Essa autonomia que o PT tem de ter dará inclusive mais eficácia para a sustentação que o partido vai dar nas grandes iniciativas do presidente da República ¿ acrescenta Tarso.