Título: Uma pedra no Vidigal como casa
Autor: Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 01/01/2007, Rio, p. 22

Aposentado ganha R$350 por mês e vive sozinho no alto da favela

Pela aposentadoria que ganha no início de cada mês (R$350), o ex-trabalhador da construção civil Francisco Couto, de 73 anos, não está abaixo da linha de pobreza. Mas ele não tem dúvidas sobre a sua condição de pobre. Francisco, o Chico da Pedra, instalou sua casa no miolo do Vidigal, na fenda de uma pedra, há 40 anos.

¿ O que recebo não dá para comprar nada. Só para comer e me vestir. O que tenho dentro de casa é fruto de doação. Até a geladeira ¿ diz Francisco.

Mineiro, ele vive no Rio há mais de 50 anos. É viúvo, mora sozinho e não recebe visita dos quatro filhos há cerca de dez anos.

¿ O meu sonho é arrumar um quartinho para morar mais embaixo no Vidigal. Tenho que subir muito para chegar até a minha pedra e já fiz quatro cirurgias. É como se eu tivesse que subir 300 degraus para conseguir entrar em casa ¿ afirma Francisco.

Embora o parâmetro para medir a linha de pobreza seja o de uma renda per capita de R$169, o presidente da Cide, Ranulfo Vidigal, chama a atenção para diferenças entre as áreas urbana e rural.

¿ Nas áreas urbanas, para se manter há necessidade de mais dinheiro do que nas rurais. No campo, as pessoas têm mais acesso a espaço para cultivar e obter alimento a baixo custo. No meio urbano, a garantia da sobrevivência está diretamente ligada ao mercado de trabalho ¿ ressalta o presidente da Cide.