Título: Ano novo começa no vermelho
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 01/01/2007, Economia, p. 23

IPVA, reajuste de mensalidade escolar e IPTU elevam gastos em até 86% acima do salário

OIPVA teve aumento médio de 3,5%. O seguro obrigatório para veículos subiu 11,13%. O IPTU, 2,96%. As mensalidades escolares foram corrigidas em até 8%. Com a lista de reajustes em alta, o orçamento do brasileiro começa 2007 em baixa. De acordo com levantamento feito pelo Ibmec-RJ a pedido do GLOBO, as despesas totais, dependendo da renda familiar, serão entre 28% e 86% maiores do que o salário no primeiro mês do próximo ano.

Pelos cálculos do Ibmec-RJ, as famílias com renda de R$1.500 por mês serão as mais prejudicadas. O especialista Ruy Quintans, professor do MBA de Finanças e Gestão & Negócios do Ibmec-RJ, estima que as despesas extras, quando somadas aos gastos correntes do grupo, ou seja, aqueles pagamentos que ocorrem todos os meses, ficarão 85% além do salário. Para quem recebe R$5 mil por mês, os gastos totais chegam a R$6,4 mil. Ou seja, um acréscimo de 28% nas contas.

¿ Ou a família guardou dinheiro para fazer frente aos gastos de data marcada, ou terá que se financiar de algum modo. O ideal seria que a família se programasse, reservando o décimo terceiro salário para enfrentar as despesas. Para os que não fizeram isso, a solução agora é buscar o parcelamento dos tributos ¿ sugere Quintans.

Aumentos muito acima da inflação

Para as simulações, foram consideradas famílias de quatro pessoas, com dois filhos em idade escolar e um automóvel. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E, que usa a mesma metodologia do IPCA, referência para a inflação oficial do país, apenas com período de coleta ligeiramente diferente) fechou 2006 em 2,96%. Mas a maioria dos impostos foi reajustada em índices muito superiores, exceto o IPTU, que teve a mesma variação do IPCA-E.

No caso dos veículos, os aumentos variam conforme a valorização dos carros, calculada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Na média, a alta ficou em 3,5%. O seguro obrigatório (DPVAT) para automóveis particulares teve reajuste de 11,13% este ano. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o valor passou de R$76,08 para R$84,55. No caso de motocicletas, o aumento é maior e chega a 33,56%, ficando em R$183,84.

A licença anual, paga com o IPVA, passou de R$71,86 para R$73,99 (reajuste de 2,96%). Com a mesma alta, a emissão do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV) ficou em R$29,59. As mensalidades escolares sofreram reajustes entre 6% e 8%, dependendo da instituição de ensino, revela o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (Sinepe-Rio).

Com uma filha de 13 anos, o administrador Alexandre Ferraz já faz as contas do aumento dos impostos de início de ano. A renda da família, que oscila em torno de R$4 mil, não vai suportar todas as despesas. Por isso, ressalta Alexandre, a saída será o parcelamento. Somados os reajustes, a família vai desembolsar cerca de R$2 mil só para o pagamento de IPTU, IPVA e gastos escolares como material e uniforme.

¿ Minha esposa, Márcia, está desempregada desde março. Assim, nossa situação ficou um pouco mais apertada. Como parte da renda já está comprometida com os gastos correntes, tomamos cuidado com os presentes de Natal ¿ afirma Ferraz.

Especialistas, no entanto, sugerem outras formas de pagar os tributos. Luiz Carlos Ewald, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas, ressalta que, caso o consumidor tenha dinheiro em aplicações financeiras como poupança, vale a pena fazer o resgate e pagar o IPTU à vista. Parcelado, o imposto tem juros de 2,42%, contra rentabilidade de 0,8% ao mês na poupança.

¿ É só pesquisar as facilidades. O mesmo pode ser aplicado no IPVA, que cobra juros de 11,55% ao mês. E, nos primeiros meses de janeiro, o melhor é evitar cheque especial e compras parceladas ¿ sugere Ewald.

Para o secretário municipal da Fazenda, Francisco Almeida e Silva, o reajuste do IPTU baseado na inflação pelo IPCA-E permite ao contribuinte um melhor controle em seu orçamento.

¿ A estabilidade da economia permite uma inflação menor. Além disso, estamos aperfeiçoando a cobrança e tentando reduzir a inadimplência, que hoje oscila em torno de 18% ¿ diz Silva.

De acordo com a Secretaria estadual da Receita, o IPVA depende da valorização do modelo e do ano de fabricação do veículo. Os donos do Celta Life 2005, por exemplo, pagarão 3,54% a mais. O valor do imposto passou de R$729,60 para R$755,40. Os donos do Gol 1.6 de 2005 vão desembolsar mais 6,01% (de R$1.092,80 para R$1.158,52). Para os donos do Kadett GL 1999, o imposto teve alta de 7,15%, passando de R$472,92 para R$506,72.

¿ Qualquer reajuste pesa no orçamento do contribuinte. Estamos combatendo a inadimplência para diminuir a alta. Em parceria com os municípios, o calote passou de 11%, em 2005, para 9,6% este ano. Nossa expectativa é que, até o fim de 2007, chegue a 7% ¿ afirma Antônio Francisco Neto, secretário da Receita.

Apelar para cheque especial é pior saída

A família de Alexandre também sente o impacto do material escolar da filha e das mensalidades mais caras. Segundo Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sinepe-Rio, sindicato que reúne as escolas do Estado do Rio de Janeiro, a alta nas mensalidades é reflexo do alto índice de inadimplência, dos custos dos materiais e da folha de pagamento dos professores.

¿ Metade da receita da escola vai para as despesas do salário dos funcionários. Com isso, a margem fica pequena. Além disso, os salários dos professores serão reajustados em abril, mas o aumento ainda está sendo discutido ¿ disse Ribeiro.

Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (associação que reúne executivos da área de finanças), ressalta que, quem não tem reservas financeiras, deve pagar os impostos e gastos extras de forma parcelada.

¿ Pode-se ainda apelar para os parentes ou até mesmo se desfazer de algum bem, como um carro. Tudo é melhor do que se debruçar nas mesas dos gerentes de bancos e financeiras para conseguir fechar o orçamento de janeiro. A pior coisa a fazer é entrar no cheque especial ou rolar a dívida no cartão de crédito ¿ diz Oliveira.