Título: TVs do mundo árabe ficam divididas
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Fonte: O Globo, 01/01/2007, O Mundo, p. 27

Emissora al-Arabiya abre espaço para políticos xiitas iraquianos elogiarem execução; al-Jazeera tem visão mais crítica

RIAD. A cobertura jornalística do enforcamento de Saddam Hussein nos meios de comunicação árabes refletiu as grandes diferenças entre aqueles que se opõem à influência dos Estados Unidos na região e os aliados de Washington.

O canal de notícias por satélite al-Arabiya, que colocou no ar imediatamente as imagens divulgadas pela TV estatal iraquiana, repetiu as imagens de Saddam na forca incontáveis vezes. A TV al-Jazeera fez o mesmo assim que conseguiu as imagens.

A execução foi uma espécie de continuação da queda de Bagdá em abril de 2003, quando as redes pan-árabes por satélite mostraram as cenas da estátua de Saddam no centro de Bagdá sendo derrubada por soldados americanos e iraquianos extasiados.

¿ Esta é a primeira execução de um líder árabe. É uma imagem nova e surpreendente para os cidadãos árabes normais ¿ disse Khalaf Alharbi, editor do tablóide saudita ¿Shams¿. ¿ As pessoas estão confusas. Este é o fim de um tirano, mas também de um prisioneiro de guerra que lutou contra o Ocidente.

De um lado, vários comentaristas ouvidos pela al-Jazeera criticaram o enforcamento do ex-governante iraquiano. De outro, os políticos xiitas do Iraque tiveram acesso total na al-Arabiya, na qual justificaram a primeira morte televisionada de um líder árabe numa região de governantes autocráticos.

Os donos da al-Arabiya são sauditas próximos da família real, que nunca gostou da ideologia nacionalista secular árabe de Saddam, apesar de alguns períodos de amizade.

Já a al-Jazeera, um canal baseado no Qatar que está proibido de fazer reportagens dentro do Iraque, forneceu um fórum para a maioria dos árabes da região que se opuseram à invasão americana do Iraque.

¿ A al-Arabiya é adepta da moderação, do diálogo com o Ocidente. A al-Jazeera trabalha com slogans que falam de resistência, que, francamente, são mais populares no mundo árabe. Mas nenhum dos dois lados mostra toda a verdade ¿ disse Alharbi.

Asad AbuKhalil, um cientistas político libanês da Universidade da Califórnia, critica os dois canais:

¿ A al-Jazeera é demasiadamente sombria e melancólica, assim como a cobertura da al -rabiya é demasiadamente festiva e falsa.

Os governos de Arábia Saudita e Egito, por exemplo, criticaram o Iraque pela execução de Saddam. Mas seu argumento foi o momento, o feriado religioso do Eid al-Adha.

¿A execução de Saddam foi a aplicação da mais verdadeira forma de justiça, apesar de ter acontecido no pior momento¿, escreveu Abdel-Rahman al-Rashed, diretor da al- Arabiya, no jornal pan-árabe saudita ¿Asharq al-Awsat¿.