Título: Annan se despede e deixa temores sobre Darfur
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Fonte: O Globo, 01/01/2007, O Mundo, p. 28

Para analistas, novo secretário-geral da ONU pode esquecer África

NOVA YORK. A despedida de Kofi Annan do cargo de secretário-geral da ONU ontem ¿ ele deixa seu posto depois de dez anos no comando das Nações Unidas ¿ desperta em políticos e analistas o medo de que questões priorizadas por ele, especialmente a delicada situação de Darfur, no Sudão, sejam relegadas ao esquecimento por parte da comunidade internacional. O novo secretário-geral, Ban Ki-moon, que já declarou pretender dar prioridade a questões asiáticas, como o impasse nuclear com a Coréia do Norte, é apontado como um líder pouco familiarizado com os problemas africanos.

¿ Annan se concentrava em questões estratégicas para o equilíbrio mundial, como o problema nuclear, mas por sua identificação com a África não se esquecia dos enormes problemas enfrentados naquele continente. Já o novo secretário-geral não parece ser familiarizado com a África. Ele vai precisar de bons assessores, mas não acredito que vá priorizar isso ¿ disse um diplomata ocidental.

América Latina também seria desfavorecida

Para um funcionário do alto escalão da ONU, esse novo direcionamento na liderança das Nações Unidas pode representar uma tragédia para Darfur:

¿ A ONU pode relegar Darfur ao esquecimento e isso pode deixar ainda mais dramática a situação no Sudão. Sem pressão sobre o governo, não há solução para o problema e e Ban Ki-moon já demonstrou que não pretende concentrar forças nisso.

Para ele, não somente a África pode cair no esquecimento, mas outras regiões como a América Latina também devem receber pouca atenção:

¿ A agenda dele se concentra nas preocupações dos países desenvolvidos e no problema da Coréia do Norte. Em segundo plano, a reforma do Conselho, mas que não deve priorizar países mais pobres. A preocupação na ONU, sem dúvida, é grande.

Funcionários da ONU e analistas também estão preocupados com a nova gestão por causa dos problemas enfrentados pela organização na captação de recursos, o que pode resultar em corte de programas e demissões.

¿ Muitos países não estão repassando os recursos que devem e a crise financeira é cada vez maior. Além disso, muitos duvidam que o secretário-geral tenha a força política necessária para articular as mudanças necessárias no Conselho de Segurança. Sem essas mudanças, o futuro da ONU é incerto ¿ disse outro funcionário das Nações Unidas.