Título: UE não terá mais adesões nos próximos anos
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 01/01/2007, O Mundo, p. 30

Expansão está inviabilizada até que bloco consiga resolver impasse institucional e aprovar texto da Constituição

BUCARESTE e SÓFIA. Bulgária e Romênia passaram pela fresta de uma porta que acaba de se fechar pelos próximos anos, talvez uma década. Novas expansões da União Européia (UE) estão inviabilizadas até que os 27 países consigam resolver o impasse institucional em que se encontram desde que França e Holanda disseram ¿não¿ à Constituição em 2005. Sem o tratado constitucional, a UE não tem base jurídica que lhe permita receber novos sócios.

Mas este é apenas um dos problemas enfrentados pelo grupo. A questão da ampliação dos limites do bloco passou a ser um tema sensível para vários membros. A opinião pública vê com desconfiança a entrada de membros em situação de desnível econômico pelo temor de ter que disputar empregos no mercado de trabalho com cidadãos dispostos a receber salários menores, enfrentar ondas de imigração e, quando considerada a possibilidade da entrada da Turquia, de lidar com o mundo muçulmano.

O desafio da UE agora é continuar a digerir os dez sócios recebidos em maio de 2004, os dois recém-chegados e aprovar o texto constitucional. Este é um compromisso da chanceler federal alemã, Angela Merkel, que assume hoje a presidência rotativa da UE por seis meses.

Constituição volta a ser prioridade na agenda

A transição da presidência da Finlândia, encerrada ontem, para a alemã foi marcada pela mudança de prioridades da UE. Sai do topo da agenda a ampliação e volta a Constituição. Após o sonoro ¿não¿ de franceses e holandeses ao tratado constitucional em junho de 2005, o tema ficou congelado por um ano e meio, mas foi trazido à tona pelos finlandeses, que coincidentemente acabam de aprovar o texto constitucional no país. Com isso, passam a ser o sétimo país a aceitar o tratado ¿ depois dos referendos negativos da França e da Holanda¿ e 16º da união a fazê-lo.

A Alemanha está disposta a encontrar uma saída relativamente descomplicada para o impasse institucional. A expectativa é de que não apresente outro texto para os 16 países que já aprovaram a Constituição não terem de votá-lo novamente, mas também não submeter o mesmo conteúdo mais uma vez a franceses e holandeses.

¿ A Alemanha quer desmistificar a dificuldade de sair do xeque no qual se encontra o tratado ¿ avalia um diplomata que acompanha de perto a evolução dos temas europeus.

Proposta é resolver impasse até eleições do Parlamento

A idéia é que o problema seja resolvido até as eleições do Parlamento Europeu em 2009. Ou seja, quem deve pôr um ponto final nesse assunto é a França, que estará ocupando a presidência rotativa na época, o que, segundo o diplomata, também terá uma importante carga simbólica.

¿ Começa com os alemães e termina com os franceses. Aqui volta-se à idéia do motor franco-alemão que criou a UE. Os dois países estão na origem das guerras cuja superação foi possível com o processo europeu de integração. Além disso, os franceses foram os primeiros a dizer ¿não¿ ao tratado. A França sempre foi uma das molas propulsoras do processo de integração ¿ explicou.

Novas expansões, só depois de resolvido esse imbróglio e quando os países-membros da UE chegarem a um consenso sobre o tema. Reino Unido, Suécia, Espanha e alguns países da Europa Central são favoráveis à continuidade da ampliação. Mas outros países de peso não são. Pelo menos a curto e médio prazos.