Título: Após o escândalo, a volta ao PT
Autor: Franco, Limar
Fonte: O Globo, 03/01/2007, O País, p. 3
Com a presença de parlamentares do Campo Majoritário do PT, ministros petistas e aliados, como o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) reassumiu ontem a presidência do PT. A volta aconteceu um dia após a posse do presidente Lula para seu segundo governo e três meses após Berzoini ter sido afastado do cargo por causa do escândalo da compra, por petistas, do dossiê contra tucanos, do qual foi acusado de envolvimento. O caso derrubou Berzoini também da coordenação da campanha pela reeleição de Lula. Os petistas tentaram dar um tom festivo ao retorno, organizando um almoço num restaurante. Mas representantes das tendências de esquerda do PT não compareceram.
Tanto Berzoini quanto o vice-presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, que comandou o partido nos últimos três meses, e o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, disseram que o PT trabalha pela unidade e pela coesão da base do governo no Congresso. Discurso adequado para o momento em que os partidos aliados estão divididos entre duas candidaturas à presidência da Câmara.
- Precisamos de unidade política e coesão na base para governar com segurança e sem crises. É quase impossível que não existam crises, mas sem crises graves - disse Berzoini, que deve terminar seu mandato em 2008, embora a esquerda petista pretenda encurtá-lo, elegendo um novo presidente no congresso que o PT fará em julho próximo.
Sobre as eleições para a presidência da Câmara, Garcia tentou evitar polêmica, dizendo que as candidaturas de Aldo Rebelo e do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não são antagônicas. Mas repetiu o discurso de Lula de que a coalizão governista terá um só candidato.
- O campo progressista hoje está dividido em duas candidaturas, que poderão ser mais. Nós já temos um mecanismo pelo qual um deles será o candidato único da coalizão - disse Marco Aurélio.
Elogios a Aldo, que foi ao almoço
Os petistas elogiaram o atual presidente da Câmara, que deu uma passada no almoço do PT. Disseram que, independentemente de sua candidatura, Aldo tem e continuará tendo a confiança e o reconhecimento do partido, por ter vencido as eleições para a Câmara num momento, enfatizou Garcia, em que a oposição tentava desestabilizar o governo Lula. Berzoini afirmou que o PT tem consciência de suas forças e limitações e de seu papel na sustentação do governo Lula.
Berzoini, por sua vez, disse que aquele não era um ato em favor da candidatura Chinaglia, defendida por ele, mas em respeito a todas as correntes que militam na Câmara.
O PT ficou ausente do discurso de posse do presidente Lula, mas os petistas falaram muito ontem em governo de coalizão. Garcia, que é assessor para Assuntos Internacionais do presidente da República, também frisou a importância de um governo de coalizão e disse que o PT tem consciência de que não pode governar sozinho. Acrescentou que o PT sabe que precisa não apenas dos aliados de esquerda, mas também de partidos conservadores. A fala agradou ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e ao líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE).
- Não podemos governar sozinhos, nem mesmo apenas com os partidos de esquerda com quem temos maior afinidade - disse Garcia, que fez questão de lembrar que Berzoini não foi indiciado no inquérito da Polícia Federal sobre a compra do dossiê por petistas - que não citou os suspeitos de envolvimento que trabalhavam na campanha pela reeleição de Lula. Citou também o fato de o nome de Berzoini não ter constado do relatório final da CPI dos Sanguessugas.
Ricardo Berzoini foi obrigado a se licenciar da presidência do PT no dia 6 de outubro do ano passado, após reunião de mais de seis horas com a executiva nacional, por causa de seu envolvimento com os "aloprados" que negociavam a compra de um dossiê contra tucanos. Ele já havia sido afastado da coordenação nacional da campanha de Lula à reeleição por causa do escândalo. A executiva do PT, que aceitou o pedido de Berzoini, também expulsou, na ocasião, quatro petistas acusados de envolvimento com a negociação do dossiê: Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso e Hamilton Lacerda. Bargas e Lorenzetti trabalhavam diretamente com Berzoini na campanha de Lula, mas os três não foram indiciados pela PF. Berzoini, com o apoio do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, fora levado à presidência do PT em meio ao escândalo do mensalão, que derrubou o então presidente do partido, José Genoino, também em 2005.