Título: Câmara: Aldo e Chinaglia não abrem mão
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 03/01/2007, O País, p. 3

contrariando a expectativa do próprio PT, o Palácio do Planalto definiu como critério para escolha do candidato a presidente da Câmara o nome que tiver mais apoio na Casa, inclusive na oposição. O critério de aferição significou um duro golpe na candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e favorece, em tese, a reeleição do presidente da Câmara, aldo Rebelo (PCdoB-SP). Os dois reafirmam suas candidaturas.

Determinado a ir até o fim, aldo deixou de lado o estilo diplomático e partiu para uma ofensiva que tem agora endereço certo: conquistar o apoio do PMDB, que recebeu do PT e de Chinaglia a proposta de dividir o comando da atual legislatura entre as duas legendas. O petista também disse que sua candidatura não tem volta.

A definição do critério foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende conversar com os dois antes de tirar férias, dia 5. Lula, preocupado com uma divisão irreversível na base aliada, tem dito que será o candidato único aquele que tiver mais condições de vencer. O recado foi transmitido publicamente pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, durante o almoço que marcou a volta do deputado Ricardo Berzoini (SP) à presidência do PT.

- A presidência da Câmara é um mandato institucional de relevância republicana. Não deve ser medido pelas cores partidárias que pode ter. A candidatura do aldo não sofre nenhum desgaste de ser apoiado pelo PFL e pelo Fernando Henrique Cardoso, em absoluto - avisou Tarso, que ressaltou: - O candidato será aquele com maior chance de vitória. O ideal é que o presidente da Câmara tenha apoio de todos os partidos.

O ministro aposta em um acordo dentro de duas semanas e afirmou que não existe preferência do Planalto ou do presidente por aldo Rebelo:

- O que nós, do governo, temos que tentar é chegar a um ajuste e a base do governo ter apenas um candidato. Ou aldo ou Arlindo. Um bom petista pensa no governo e na instituição. Por isso, reafirmo que ambos têm total legitimidade. Tenho absoluta certeza, anotem aí, que no fim da segunda semana de janeiro, até o dia 20, por aí, teremos uma candidatura única.

Otimista, com uma contagem de 200 votos de "largada", segundo aliados, aldo reforçou sua ofensiva e ganhou terreno no PMDB, principal trunfo do petista. Passou o dia em reuniões e ao telefone com governadores peemedebistas. Recebeu declarações favoráveis de Luis Henrique (SC) e a adesão de Roberto Requião (PR). Encerrou o dia jantando com o governador do Amazonas, Eduardo Braga.

- O PMDB não tem uma posição fechada, apesar da proposta de acordo do PT. Estamos conversando com governadores, deputados, e o retorno tem sido muito bom - disse Renato Casagrande (PSB-ES), deputado e senador eleito.

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), se integrou ao núcleo composto por PSB, PCdoB, PP e PL e disse que, se Lula quer diálogo com a oposição, o apoio a aldo seria uma sinalização importante. Pela contagem de Maia e do vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), a reeleição de aldo conta hoje com 120 votos da oposição, 38 de PCdoB e PSB, 35 do PP e apoios no próprio PT, no PL e no PMDB. São necessários, no mínimo, 257 votos.

- Lula fala em diálogo. O apoio da oposição é o primeiro gesto em relação ao resultado da eleição de 2006. Com aldo haverá harmonia com o Executivo, mas também independência para que a Câmara não vire o quintal do Planalto - defendeu Maia.

A ofensiva de aldo incluiu uma incursão no campo adversário, na festa da volta do deputado Ricardo Berzoini (SP) à presidência do PT. O convite foi do próprio Berzoini, mas os petistas se surpreenderam com sua chegada ao restaurante. Ainda no evento, ele fez questão de declarar que não havia possibilidade de recuo.

- Minha candidatura hoje pertence aos partidos e deputados da base e da oposição. Ela foi posta para disputar - declarou aldo, descartando acordo para recuar.

"Haverá disputa em plenário", promete Chinaglia

Quando retornou para a reunião na residência oficial, aldo recebeu o ex-presidente da Infraero Carlos Wilson (PT-PE), deputado eleito.

Chinaglia parecia ter acusado o golpe. Pouco à vontade no evento em homenagem a Berzoini, onde ouviu elogios a aldo, mostrou irritação:

- Se tiver mais de uma candidatura, haverá disputa em plenário - disse, sem descartar acordo: - Temos que ter paciência para que daqui a dez ou 15 dias haja maior clareza sobre qual candidatura tem mais chance.