Título: No primeiro mandato, promessa ficou no papel
Autor: Domé, Luiza
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 3
A promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de chamar os governadores para pôr um fim à onda de violência também foi feita no discurso de posse de 2003, mas boa parte das propostas de esforço conjunto não saiu do papel. O governo federal fracassou na tentativa de mudar as leis para reformar as polícias civis e militares e teve enormes dificuldades para implementar o Sistema Único de Segurança (SUSP). O Fundo Nacional de Segurança Pública e o Fundo Penitenciário Nacional, duas importantes fontes de financiamento de programas de segurança pública, sofreram sucessivos cortes de verbas ao longo de todo o primeiro mandato de Lula.
Num de seus mais inflamados discursos na posse em 2003, Lula anunciou que iria chamar os 27 governadores para, num esforço comum, dar um basta à crescente criminalidade. Na mesma linha, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, também disse na posse que sua principal meta era restaurar o direito de ir e vir nas grandes cidades. Para Bastos, era inaceitável a petulância de traficantes de decretar toques de recolher nos morros do Rio ou de qualquer outra cidade.
Mas as promessas de Lula e Bastos não foram levadas adiante. No início de 2004, diante do forte lobby das corporações policiais, Lula cancelou uma reunião que teria com os 27 governadores e simplesmente abandonou a proposta de desconstitucionalização das polícias civis e militares.
O governo também teve dificuldade de pôr em prática o SUSP, um dos pilares da política de segurança de Lula. Os governadores assinaram os termos de adesão ao sistema, mas divergências políticas e operacionais impediram, em muitos casos, a aproximação entre as instituições federais e estaduais. O governo de São Paulo só ingressou no sistema no segundo semestre de 2006, depois de uma série de ataques de uma facção criminosa.
Num dos momentos da crise da segurança no Rio, o governo federal criou a Força Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça. A Força seria usada para socorrer os governos estaduais em momentos descontrole. Mas até hoje muitos governadores têm dificuldades em aceitar a atuação das tropas federais nos estados. Para alguns deles, a Força Nacional pode caracterizar fracasso das forças locais para enfrentar a criminalidade.