Título: 'A barbaridade que ocorreu no Rio não é crime comum, é terrorismo'
Autor: Domé, Luiza
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 3
Em uma solenidade de posse com público pequeno e sem a emoção de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso no parlatório do Palácio do Planalto para manifestar indignação com os atos de violência ocorridos no Rio e anunciar que pretende endurecer a repressão a crimes como os ataques a ônibus e delegacias policiais. O presidente classificou de atos de terrorismo e disse que os ataques no Rio extrapolaram o que chamou de banditismo convencional. Lula prometeu comandar uma mobilização de governadores para combater a violência.
O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), também empossado ontem, estava presente. Lula foi enfático:
- Eu queria dizer para você, e quero aproveitar porque sei que o governador Sérgio Cabral está aqui, como também quero falar para os governadores de outros estados, porque essa barbaridade que aconteceu no Rio de Janeiro não pode ser tratada como crime comum. Isso é terrorismo e tem que ser combatido com uma política forte e com a mão forte do Estado brasileiro.
Na semana passada, pelo menos 18 pessoas foram assassinadas, sendo sete queimadas vivas dentro de um ônibus. O presidente disse que esse tipo de crime tem de ser combatido como terrorismo.
- Já extrapolou o banditismo convencional que conhecíamos. Quando um bando de chefes detido na cadeia consegue dar ordem para fazer uma barbaridade daquelas, matando inocentes, quero dizer ao meu governo e aos governos estaduais: precisamos discutir profundamente, porque o que aconteceu no Rio de Janeiro foi uma prática terrorista das mais violentas que tenho visto neste país e como tal tem de ser combatido.
Ele reiterou que é necessário garantir a segurança da população e não fez referência à série de atentados em São Paulo, no ano passado, também comandados das cadeias por chefes do crime organizado:
- Se tem uma coisa que nós precisamos garantir é o direito de homens livres e honestos, homens trabalhadores, saírem de casa de manhã e voltarem para casa à tarde com o sustento da sua família. Não podemos continuar a permitir a inquietação dentro de cada casa, a inquietação dentro de cada cidade ou de cada estado - discursou o presidente.
Lula disse ainda que o esforço dos governos deve ser feito independentemente de partidos e ideologias:
- Essa é uma tarefa que não é de um homem, não é de um partido, é de toda uma nação, de todos os estados e de todas as cidades.
Para Lula, o problema na área de segurança é de todos:
- Aquilo que está acontecendo é resultado de erros históricos acumulados por toda a sociedade brasileira. A sociedade como um todo precisa assumir a responsabilidade de ajudar estados, municípios e o governo federal a encontrar uma solução definitiva, porque não creio que tenha no Brasil nenhuma alma que possa compactuar com a barbaridade que foi feita por alguns facínoras.
Como já havia afirmado outras vezes, disse que a crise no Rio é resultado de um processo de degradação da estrutura da sociedade brasileira:
- É preciso que a família brasileira seja a base, o alicerce dessa sociedade pujante que nós queremos criar. Se dentro da família houver desagregação, se pai e mãe não se entenderem, se filhos e pais não se entenderem, tudo vai ficar mais difícil, e não será a polícia que vai resolver.
Mais cedo, durante a cerimônia de posse no Congresso, Lula já havia feito uma referência ao assunto. Porém, o presidente limitou-se a dizer que uma das áreas vitais para a população - ao lado da de saúde - e objeto sempre de preocupação das pessoas é a da segurança pública:
- Como fizemos no nosso primeiro mandato, vamos continuar modernizando os dois setores para que a população brasileira, em especial a mais pobre, tenha uma melhor qualidade de vida:
- Sinto que, em matéria de segurança pública, um verdadeiro flagelo nacional, crescem as condições para uma efetiva cooperação entre a União e os estados, sem a qual será muito difícil resolver este crucial problema.
Sérgio Cabral Filho respondeu depois, em entrevista:
- O presidente foi muito claro nas suas declarações, firme e completamente ao encontro do que eu já tinha dito na minha posse. São facínoras, covardes, e devem ser tratados como atos de terrorismo. Concordo em gênero, número e grau com o presidente. Ele quer jogar duro e tipificar (esse tipo de crime) de outra maneira. Temos que mudar a legislação. Para o marginal que entra e atira no policial militar ou que incendeia um ônibus, qual o tratamento que deve ser dado a esse animal, a esse selvagem?