Título: Lula no Congresso: 'Os verbos acelerar, crescer e incluir vão reger o Brasil'
Autor: Franco, Ilimar e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 4

Numa cerimônia sem emoção e num plenário esvaziado, o presidente Luiz Inácio lula da Silva e o vice-presidente José Alencar tomaram posse ontem para o segundo mandato. No congresso, o presidente fez um discurso afirmando que se o verbo que regeu o primeiro mandato foi mudar, a partir de agora o Brasil será regido pelos verbos "acelerar, crescer e incluir". O compromisso eleitoral com o crescimento da economia, a distribuição de renda e a educação de qualidade foram a tônica de sua fala, dizendo que o Brasil tem pressa de crescer e cobra ousadia do governo.

- Sou igual quando volto a conjugar, nas suas formas mais afirmativas, o verbo mudar, como fiz aqui quatro anos atrás. Mas sou diferente, pois, sem renegar a paciência e a persistência que aqui também preguei, quero hoje pedir, com toda ênfase, pressa, ousadia, coragem e criatividade para abrir novos caminhos - disse. - Hoje, digo que os verbos acelerar, crescer e incluir vão reger o Brasil nestes próximos quatro anos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, saíram da cerimônia exultantes. Tarso, que afirmara que o segundo mandato marcaria o fim da era Palocci, disse ao colega:

- Acelerar o crescimento é a síntese do segundo mandato. Fomos integralmente contemplados. O comandante em chefe está aqui.

Críticas às elites no discurso

Reeleito com 61% dos votos no segundo turno das eleições, lula abordou a legitimidade do mandato e a vitória nas urnas em várias oportunidades do discurso. Mas mostrou guardar uma certa mágoa da campanha, ao criticar as elites e afirmar que o povo representa a verdadeira opinião pública.

- Não faltaram os que, do alto de seus preconceitos elitistas, tentaram desqualificar a opção popular como fruto da sedução que poderia exercer sobre ela o que chamavam de "distribuição de migalhas". Os que assim pensam não conhecem e não entendem este país. Desconhecem o que é um povo sem feitores capaz de se expressar livremente - afirmou. - O que distribuímos - e, mais que isso, socializamos - foi cidadania. Este povo constitui a verdadeira opinião pública do país que alguns pretenderam monopolizar.

lula voltou a dizer que ainda este mês anunciará um conjunto de medidas, o Programa de Aceleração do Crescimento.

- Os efeitos das mudanças têm que ser sentidos rápida e amplamente. Vamos destravar o Brasil para crescer e incluir de forma mais acelerada - disse lula, acrescentando: - Precisamos de firmeza e ousadia para mudar as regras necessárias e avançar. Não podemos desperdiçar energias, talentos, esperanças. Sei que o crescimento, para ser rápido, sustentável e duradouro, tem que ser com responsabilidade fiscal.

Aplaudido ao entrar no plenário por uma platéia de parlamentares governistas, ministros e convidados, lula reafirmou que continuará governando para os pobres, defendeu o programa Bolsa Família e as políticas sociais e assistenciais.

- Nosso governo nunca foi, nem é populista. Este governo foi, é e será popular, com compromissos populares.

lula disse que a reforma política é prioridade, pediu pressa ao congresso na conclusão da reforma tributária e, sem fazer referência direta ao escândalo do mensalão, disse que o país precisa avançar nos padrões éticos e práticas políticas. Ele enumerou as políticas públicas que serão a marca do segundo mandato e prometeu que haverá redução da taxa real de juros.

E fez um apelo à oposição:

- Não peço a ninguém que abandone suas convicções. Não desejo que a oposição deixe de cumprir o papel que dela esperam os que por ela livremente optaram. Quero pedir-lhes, apenas, que olhemos mais para o que nos une do que para o que nos separa .

Promessa de reformas

Na mesa da posse estavam o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o ministro do STF Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que fez um longo discurso, além de lula e Alencar. Depois de lula, Renan fez discurso afirmando que a sociedade recusou dar nas urnas a hegemonia nas mãos de um segmento político e que o poder no país foi repartido. Também destacou o apelo à conciliação feito para a oposição e defendeu reformas:

- Reformas estruturais pertencem ao futuro do país, não a governos. O papel do Parlamento é acelerar as reformas, que não devem ser procrastinadas ou vítimas de contaminações eleitorais que se avizinhem. Para cumprir o seu destino histórico, o país pede a seqüência das reformas, entre elas, a modernização do sistema político.

No discurso no parlatório do Palácio do Planalto para uma platéia de aproximadamente 10 mil pessoas, pelas estimativas da Polícia Militar, lula agradeceu ao povo que, segundo ele, nos momentos mais difíceis, quando se imaginava que o jogo acabara, entrava em campo para sustentar a democracia.

O presidente disse ainda que, mesmo fazendo muito, fez menos do que o necessário para tornar o país mais justo. No entanto, prometeu que ele e José Alencar, se necessário, dariam a vida para cumprir os compromissos assumidos para que a parte mais pobre da população seja tratada com o respeito e com a decência que deveria ter sido tratada há muito tempo.

- Sou presidente de todos, sem distinção de credo religioso, de compromissos ideológicos, sem me preocupar com a origem social de cada um. Mas não se enganem: eu cuidarei primeiro daqueles mais necessitados, daqueles mais fragilizados, daqueles que mais precisam do Estado brasileiro.